quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Clipes do Balaio # 26 - 1/2 Dúzia de 3 ou 4 e sua Geyse

Manter este espaço, ainda que com cada vez mais raras inserções (não é fácil conciliar com o trabalho em área profissional sem nenhuma ligação com o universo da internet), já me possibilitou em mais de uma ocasião ter contato, inédito ou maior, com algo rapidamente adotado como objeto de predileção.
Foi assim com o Caipirinha Appreciation Society (cujo link encontra-se na barra lateral direita deste blog e merecerá uma postagem no futuro). E foi assim também com o inteligente som do "1/2 Dúzia de 3 ou 4" (muito bom o nome, diga-se de passagem).
Tomei contato com o trabalho desta trupe por ocasião do encerramento das atividades do saudoso Villagio Café, quando, ao escrever sobre a notícia, recebi a visita do 1/2 Dúzia.
O site da banda é muito bem feito e bastante ilustrativo do som que fazem, além da fina ironia e do inteligentíssimo humor. Se rasgo a seda é porque de fato fiquei fã dos caras.
É clara a influência da chamada Vanguarda Paulistana (há um "quê" de Itamar Assumpção, de Arrigo Barnabé e, é claro, de Grupo Rumo, de Premeditando o Breque e até de Joelho de Porco e Zé Rodrix) e da Tropicália e Tom Zé (dá-lhe Tom!), além de beber na fonte de Chico Buarque a André Abujamra e Maurício Pereira, entre tantos e tantos outros (todos os citados mais que cultuados por mim). É o que bastou para me fisgar.
Mas se já não bastasse, o "1/2 Dúzia de 3 ou 4" , mostra-se um grupo antenado.
Quer um exemplo?
Então antes de se aventurar no belo site da banda e de mergulhar no Myspace dos sujeitos, dê uma olhada no vídeo abaixo!
Apropriando-se do "Caso Geysi" fizeram uma letra pra lá de inteligente, com citação de "Geni e o Zepelin", focando a transformação da fulana de vítima em celebridade. O jogo de palavras no melhor estilo Luiz Tatit é sensacional ("Geysi em grená/Pra Geysi engrenar"). O vídeo então nem se fale! Para se ver várias vezes até conseguir caçar todos os detalhes. Desde Tom Zé de "pinguim de geladeira", até a figuraçao de ex-BBBs ao lado da aparecida do momento, passando pela escalada pelos logos das emissoras de TV.
Muito bom!
Confira:



PS: tem show do "1/2 Dúzia de 3 ou 4" na Praça Roosevelt, no próximo sábado, dia 19!

sábado, 7 de novembro de 2009

Anselmo

Acabo de ler a respeito da morte de Anselmo Duarte.
Não precisa ser profundo conhecedor da obra e vida dele para ficar triste pelo seu falecimento.
Basta saber, para ficarmos em um exemplo, que como diretor, seu filme "O Pagador de Promessas" levou a Palma de Ouro em Cannes em 1962, desbancando Luiz Buñuel e Michelangelo Antonioni. Um feito e tanto!
É o que basta para que se fique triste pela sua morte.

Acabou mas continua

"O Inferno de Clouzot" (França), de Serge Bromberg e Ruxandra Medrea. Muito bom documentário sobre o filme inacabado de Henti-Georges Clouzot, "L'Enfer", superpordução para a época, com orçamento ilimitado liberado pelos produtores americanos. O documentário mostra todas as inovações tecnológicas buscadas, os ensaios técnicos com os atores, os primeiros meses de filmagens. Um documentário, a exemplo de "Belair", sobre o "fazer cinema". Aqui o enfoque é outro, até mesmo porque outras eram as condições de Clouzot, mais favoráveis em relação aos diretores brasileiros em plena ditadura. Mas guardadas as devidas proporções entre os documentários, lembra bem um ao outro. Muitas cenas do filme inacabado, cujo som fora perdido. Para solucionar a questão, e nos mostrar o enredo macabro do marido que enlouquece de ciúmes pela esposa jovem, o documentário insere diálogos em estúdio entre um casal de atores que lê o texto de Clouzot. Muito interessante!
"Voluntária Sexual" (Coreia do Sul), de Kyong-Duk Cho. Bem fraquinho. Mas serve para pensar os critérios da premiação da Mostra. Eu particularmente sou contra essa história de o público selecionar os finalistas. Dá nisso: filme sentimentaloide, meio esquizofrênico na montagem (há quem dirá que é inovador), péssimos atores (ou seria a direção de atores?). O argumento é muito bom: sobre os "voluntários sexuais", que têm como meta dar prazer sexual a deficientes. Mas só pela história um filme merece ganhar o prêmio? E se essa história for mal conduzida, como nesse roteiro coreano? Dentre os finalistas, eu havia visto somente o "Mau dia para pescar". Dentre os dois, o "Mau dia..." tem historia mais batida, é convencional, etc e tal. Talvez seja esse um dos motivos para o "Voluntária..." ter levado o prêmio máximo do festival. Desenvolverei mais sobre o longa coreano em breve.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

O guardador de rebanhos

Apenas um "brinde" aos que deleitaram-se, como eu, com "Singularidades de Uma Rapariga Loura", de Manoel de Oliveira.
Trecho de "O Guardador de Rebanhos", de Alberto Caeiro (heterônimo de Fernando Pessoa), lido no filme por Luis Miguel Cintra.
Canto XXXII - Ontem à Tarde

Ontem à tarde um homem das cidades
Falava à porta da estalagem.
Falava comigo também.
Falava da justiça e da luta para haver justiça
E dos operários que sofrem,
E do trabalho constante, e dos que têm fome,
E dos ricos, que só têm costas para isso.
E, olhando para mim, viu-me lágrimas nos olhos
E sorriu com agrado, julgando que eu sentia
O ódio que ele sentia, e a compaixão
Que ele dizia que sentia.

(Mas eu mal o estava ouvindo.
Que me importam a mim os homens
E o que sofrem ou supõem que sofrem?
Sejam como eu — não sofrerão.
Todo o mal do mundo vem de nos importarmos uns com os outros,
Quer para fazer bem, quer para fazer mal.
A nossa alma e o céu e a terra bastam-nos.
Querer mais é perder isto, e ser infeliz.)

Eu no que estava pensando
Quando o amigo de gente falava
(E isso me comoveu até às lágrimas),
Era em como o murmúrio longínquo dos chocalhos
A esse entardecer
Não parecia os sinos duma capela pequenina
A que fossem à missa as flores e os regatos
E as almas simples como a minha.

(Louvado seja Deus que não sou bom,
E tenho o egoísmo natural das flores
E dos rios que seguem o seu caminho
Preocupados sem o saber
Só com florir e ir correndo.
É essa a única missão no Mundo,
Essa — existir claramente,
E saber faze-lo sem pensar nisso.
Canto XXXIII - Pobres das Flores

Pobres das flores dos canteiros dos jardins regulares.
Parecem ter medo da polícia...
Mas tão boas que florescem do mesmo modo
E têm o mesmo sorriso antigo
Que tiveram para o primeiro olhar do primeiro homem
Que as viu aparecidas e lhes tocou levemente
Para ver se elas falavam...
E o homem calara-se, olhando o poente.
Mas que tem com o poente quem odeia e ama?

O Amor e o Horror

"Todos os Outros" (Alemanha), de Maren Ade. Belíssimo filme. Filme que conquista pelos detalhes. Personagens com uma profundidade riquíssima, interpretados com força pelo casal de atores. O conflito de personalidades entre eles, muito diferentes entre si mas ainda assim apaixonados um pelo outro, as inúmeras tentativas de se acertarem e as concessões mútuas, a adaptação ao outro, o se comunicar apenas com olhares e as sucessivas tensões no relacionamento. Cinema de atores com forte uso do gestual.
"A Ressurreição de Adam" (EUA, Alemanha, Israel), de Paul Schrader. O circo, o mágico, o palhaço, tudo em um só personagem, Adam Stein, mas que perde espaço para o terror. O horror da guerra, do antisemitismo, que aos poucos toma de assalto a vida dos judeus alemães. Horror que deixa suas marcas para além do fim da guerra, marcas muito mais profundas que os números tatuados nos braços. Filme pesadíssimo, sombrio, ambientado em um manicômio para judeus sobreviventes do holocausto. Some a isso os flasbacks do terror vivido pelo protagonista, que além de ter sido obrigado a tocar violino enquanto acompanhava sua família conduzida aos fornos do campo de concentração, ainda era obrigado, para sobreviver, viver como se um cachorro fosse (literalmente). Tudo isso contado de forma muito inteligente, fugindo do melodrama tradicional em filmes que retratam o holocausto. Filme sombrio sim, mas de uma força ímpar. Excelente roteiro e direção, além de interpretações impecáveis. É preparar a alma e encarar.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Discussão cinéfila: Xuxa vs. Mara Maravilha

Foi-se o tempo em que os monitores que trabalham na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo eram escolhidos entre interessados por Cinema (com maiúscula mesmo, como arte que é). Ou o que caiu por terra foi minha ilusão de que assim se dava.
Ontem, 18h45. Enquanto aguardo a liberação da sala em que foi exibido o documentário "Belair", ouço, incrédulo, o seguinte diálogo entre dois monitores:
" - Eu amo a Xuxa, mas o programa da Mara era melhor!"
Depois que Meneghel foi homenageada em Gramado, como "Rainha do Cinema" (ainda custo a acreditar nisso), é bem provável que Mara ressurja e, vixemaria!, faça cinema. Os marqueteiros (e o monitor em questão) se encarregariam, cada qual com sua "função" na "cadeia comercial", de fazer bilheteria. Aí não faltará mais muita coisa para que o mundo acabe.

Belair, Eça por Manoel e Cinema Marginal.

"Belair" (Brasil), de Noa Bressane e Bruno Safadi. Documentário sobre a produtora Belair, de Rogério Sganzerla e Júlio Bressane, de existência reduzida a poucos meses de 1970. Na verdade é um documentário sobre a paixão de fazer cinema, sobre a preocupação de pensar cinema como arte e filosofia, em uma época em que pensar demais era sinônimo de ser subversivo. Bom trabalho com imagens de arquivo, montagem adequada e fotografia das filmagens contemporâneas de beleza ímpar. Destaque para o plano sequência de "Sem Essa Aranha", participação especialíssima de Luiz Gonzaga e protagonizado por Zé Bonitinho e Helena Ignez. Imperdível!
"Singularidades de Uma Rapariga Loura" (Portugal, França, Espanha), de Manoel de Oliveira. União de mestres. Conto de Eça de Queiroz filmado por Manoes de Oliveira. O resultado não poderia ser outro. Filme deliciosíssimo de ser visto. Outro imperdível!!!!
"Caveira My Friend" (Brasil), de Álvaro Guimarães. É "ferro na boneca" porque "o mundo é mágico, bixo"! Cinema marginal brasileiro dos anos 70. Extremamente experimental, portanto. Para estudiosos e/ou curiosos sobre a história do cinema brasileiro, não pode deixar de ser visto. Destaque para a participaçao de Baby do Brasil (então Consuelo), além da trilha by Novos Baianos.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Musas do Balaio # 4

CATARINA WALLENSTEIN em "Singularidades de Uma Rapariga Loura", de Manoel de Oliveira

Musas do Balaio # 3

RUN SRINIKORNCHOT, de "Corações em Conflito"

Reta final

Se ajudar na escolha do que ver nesta última semana de Mostra, aí vão algumas impressões:

"Os Famosos e os Duendes da Morte" (Brasil/França), de Esmir Filho: me irritou um pouco por ser excessivamente pretensioso. Muita "xaropada" travestida de inovação, dá um ar de videoinstalaçao (das fracas) ao filme, além de ser um filme barulhento. Alguns clipes horrendos que agradarão apenas àqueles que acham "Teatro Mágico" o máximo. Se fosse mais simples e menos pretensioso chegaria a melhor termo, já que possui algumas sequencias muito bacanas, além de ser bem filmado - a produção é impecável.
"Viajo Porque Preciso, Volto Porque te Amo" (Brasil), de Marcelo Gomes e Karim Aïnouz. Lindo, lindo, lindo!!!!! Texto preciosíssimo! Mais um filme que explora uma certa documentação em meio à parte ficcional, mas aqui feita com maestria. Lembra Jia Zhang-Ke sem que pareça cópia barata. Imperdível, para ser visto mais de uma vez!
"London River" (Reino Unido, França, Argélia), de Rachid Bouchareb. Filme bem bacana. Exemplo de simplicidade com bons resultadas. Apesar de meio quadradão no formato, um tanto sessão "Supercine", o tema e os bons atores mantêm o interesse na história, que passa rápido apesar de eventual sono que pode já começar a dominar o cinéfilo a esta altura da maratona da Mostra.
"Samson e Delilah" (Austrália), de Warwick Thornton. Apesar de altos e baixos, e de algumas opções um tanto apelativas no pior estilo "Quero ser um Milionário", o candidato da Austrália a uma indicação ao Oscar 2010 é um filme interessante, principalmente pelo foco na aridez e a sujeira a que estão condenados os marginalizados descendentes aborígenes na Austrália moderna. Destaque para direção de atores, que soube extrair delicadeza da dupla de protagonistas, que falam muito sem nada dizer. Para os brasileiros fica ainda a curiosidade em se ouvir a versão em espanhol de "Talismã", de Sullivan e Massadas - sucesso de Leandro e Leonardo -, como um dos temas principais do longa.
"Eles Não Usam Black-Tie" (Brasil), de Leon Hirszman. Uma pena que esse lindíssimo filme não seja prestigiado. Em sessão única na sala 2 do Unibanco Arteplex, menos de 30 pessoas presentes. O ganhador do Festival de Veneza em 1981 foi restaurado pela Cinemateca, ganhou surpreendente brilho novo (parece ter sido feito ontem) e traz um elenco impecável - entre outros os saudosos Francisco Milani e Gianfrancesco Guarnieri. Filme lindíssimo, tem ainda como diretor musical Radamés Gnatalli e música tema composta por Adoniran Barbosa. Filmaço pra terminar bem a maratona do dia!

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Do Azerbaijão ao Brasil, passando por Irã e Rússia

"A 40ª Porta" (Azerbaijão), de Elchin Musaoglu. Curioso. E apenas isso. A curiosidade vem de se ver algo de um país sem tradição alguma no cinema. Começa ruim, melhora, piora, e quando dá a impressão que vai melhorar de vez (com a história do menino que gostaria de mudar de vida tocando um instrumento de percussão), o filme acaba.
"Ninguém Sabe dos Gatos Persas" (Irã), de Bahman Ghobadi. Excelente. Em um país fundamentalista onde álcool e rock são crimes gravíssimos, o diretor vai atrás da cena musical underground em Teerã. Bandas que precisam se esconder para ensaiar. País onde ser músico é ser subversivo. Bastante documental e com forte influência pop - que se evidencia nos momentos de vídeoclipes durante os ensaios das bandas visitadas -é uma das preciosidades que não podem deixar de serem vistas nesta edição da Mostra.
"Enfermaria Número 6" (Rússia), de Karen Chakhnazarov. Indicado ao Oscar pela Rússia. Baseado em conto de Tchecov. O conto deve ser bom, já que a história é muito boa! O filme não é. Meus primeiros cochilos desta Mostra. Fuja!
"Os Inquilinos" (Brasil), de Sérgio Bianchi. O filme atinge o que pretende e é muito bem conduzido. Mas só vale pelos aspectos técnicos, o que, convenhamos, não pode ser a única coisa a ser buscada no cinema. Mais do mesmo - outro "filme de miséria", mas sem a genialidade de um "Linha de Passe" -, com atores medianos. Não gostei.

domingo, 1 de novembro de 2009

E mais estes...

"O Que Resta do Tempo" (França, Palestina), de Elia Suleiman. Filme autobiográfico sobre a difícil convivência entre israelenses e palestinos. Muitíssimo bem filmado: cores, enquadramentos! Muito bom!
"Insolação" (Brasil), de Felipe Hirsch e Daniela Thomas. Excelente! E deve agradar mais a quem é fã da Sutil Cia. de Teatro. A linguagem teatral é evidente no primeiro longa de Hirsch. Elenco monstruosamente ótimo, filme com poesia do começo ao fim. Da aridez dos temas dos contos russos que lhe serviram de inspiração, extrai-se a delicadeza dos sentimentos: tristeza, amor.
"A Town Called Panic" (Bélgica, França, Luxemburgo), de Stéphane Aubier e Vincent Patar. Os brinquedos têm vida! Divertidíssimo!!! Colorido e história psicodélicos e surreais!
"O Fantástico Sr. Raposo" (EUA), de Wes Anderson. Do mesmo diretor de "A Vida Marinha de Stevie Zissou" e "Viagem à Darjeeling", não poderia ser diferente: outro filme divertidíssimo. Ou melhor: animação divertidíssima! Os bichos são protagonistas, falam e tudo mais? OK, mas mantêm seus instintos selvagens! Grandes sacadas, desenho pra gente grande!
"Rock Brasileiro - História em Imagens" (Brasil), de Bernardo Palmeiro. Feito como projeto para distribuição em escolas, é bastante didático. Documentário correto, com a profundidade possível para uma história de 50 anos de rock nacional contada em 67 minutos.
"O Dia da Transa" (EUA), de Lynn Shelton. Pretende ser comédia mas se leva a sério demais. Inverossímel em muitos pontos, a história caberia melhor em uma comédia menos "cabeça", menos "independente". Não gostei.
"Tom Zé Astronauta Libertado" (Espanha), de Ígor Iglesias Gonzales. Muito bom! Um bom recorte da genialidade do performático compositor precursor do sampler. Filme delicioso de ser visto.
"Dente Canino" (Grécia), de Yorgos Lanthimos. S E N S A C I O N A L !!! Inventivo ao extremo. Assustador se dar conta de que a história da família isolada do mundo, cujas crianças são educadas (educadas?!?!) de modo a desconhecerem totalmente o que há depois do muro da casa onde vivem, é verossímil.
"Perseguição" (França), de Patrice Chéreau. Chatíssimo!!!! Blablablá a serviço de absolutamente nada!
"O Pequeno Burguês - Filosofia de Vida" (Brasil), de Edu Mansur e Marco Mazzola. Documentário sobre Martinho da Vila. Documentário "raso". Uma grande figura em um "Especial" para TV.
"Mau Dia Para Pescar" (Uruguai, Espanha), de Alvaro Brechner. Muito Bom!!! Direção de arte impecável, produção luxuosa, história muito bem contada!

sábado, 31 de outubro de 2009

Mais da Mostra: do grotesco ao sublime, do essencial ao dispensável

Algumas impressões sobre a Mostra, que entra em sua última semana.
"À Procura de Eric" (Inglaterra), de Ken Loach: Muito divertido e singel. Vale a pena ser visto. Tem previsão de lançamento comercial no dia 06.11, segundo a FSP.
"Alga Doce" (Polônia), de Andrzej Wajda: muito belo, mas aproveita mais quem já vai sabendo do que se trata: mistura da realidade da atriz, que perdeu o marido recentemente (fotógrafo do diretor), com a historia da personagem principal da parte ficcional, que também lida com a morte de seus dois filhos na guerra. Belíssimas imagens e textos.
"Hotel Atlântico" (Brasil), de Suzana Amaral: espécie de road movie brasileiro, o personagem principal vai encontrando em seu caminho diversos tipos. É o que mantém o filme atraente. Gero Camilo, João Miguel e Mariana Ximenes como sempre em ótimas interpretações.
"Aconteceu em Woodstock" (EUA), de Ang Lee: Muito bom! Em meio ao caos colorido de Woodstock Ang Lee consegue focar em apenas um personagem, e o acompanha com sua câmera em meio ao labirinto humano e psicodélico de uma época de libertações. Estreia prevista para 13.11
"O Primata" (Suécia), de Jesper Ganslandt: ótima ideia jogada no lixo. O dia de um assassino, acompanhado de perto pela câmera. Ideia boa, mas filme muito chato.
"Katalyn Varga" (Hungria, Rômênia), de Peter Strickland: bela surpresa. Fotografia linda, um tanto medieval (embora não seja filme de época), história boa, boa direção. Filme muito bom, pra compensar a porcaria vista antes ("O Primata").
"Alô, Alô, Terezinha" (Brasil), de Nelson Hoineff: muito ruim e grotesco, se pretende como extensão dos programas do Velho Guerreiro mas consegue no máximo ser um Ratinho, com algumas pitadas de Luciana Gimenez. E joga no lixo a ideia de se fazer um documentário sobre um ícone da TV.
"Corações em Conflito" (Suécia, Dinamarca, Alemanha), de Lukas Moodysoon: produção globalizada com Gael Garcia Bernal como protagonista. Gostou? Não se iluda: o filme é conservador e extremamente piegas. Há bons momentos, principalmente quando a câmera deixa de lado as lições de moral que pretende dar ao espectador e foca nos conflitos de seus personagens. Mas não salva o longa.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

"À Procura de Elly" (Irã), de Asghar Farhadi


Concorrente do Irã a uma vaga no Oscar 2010, não me chamou muita atenção não esse "À Procura de Elly". E olha que tem lá seus pontos positivos. O primeiro deles: esqueça o estilão iraniando de filmes! Trata-se de um "filme de mistério". Se bem que ao mesmo tempo que é uma vantagem, pela curiosidade que tal fato possa despertar em se tratando de um filme iraniano, é também uma desavantagem, ao fugir do que o cinema de lá sabe fazer melhor.

O diretor, Asghar Farhadi, sabe prender a atenção, mas se utilizou neste longa de alguns subterfúgios que achei um tanto artificiais. Se dão resultado durante parte da trama, depois de um tempo já não surtem o mesmo efeito.

Elly é convidada por um grupo de pessoas que vão passar um fim de semana em uma casa de praia. É professora de uma das crianças e será apresentada a um dos solteiros. Assim como os ocupantes da casa, nós também pouco sabemos sobre a personagem que dá nome ao filme. Quase nada além de seu primeiro nome – apelido, na verdade – e do porquê de ter sido convidada.
Uma das crianças quase se afoga e Elly some. O restante do filme gira em torno de se saber o que aconteceu com ela. Teria se afogado tentando salvar o menino? Sabemos não muito adiante que ela tem um noivo. Apesar de insatisfeita com o noivado, não conseguia terminar o relacionamento. Teria então se matado no mar? A cena que antecede seu sumiço nada diz: Elly brincando de pipa com as crianças, nitidamente feliz. As crianças com quem ela brincava saberem explicar absolutamente nada, tudo a serviço de criar um “mistério” para a trama. O fim do filme também só serve para criar um final parcialemente aberto (sabemos do fim da personagem, mas não de como chegou a ele). Mas assim como os demais personagens que tocam suas vidas, chega a ser inútil saber exatamente o que aconteceu com a personagem, que não envolve o espectador antes de seu sumiço. Se pelo modo "A" ou "B" não importa muito no fim das contas. Não é filme ruim – prende a atenção, e relativamente bem, como já dito -, mas não é imprescindível.

Conversando com um desconhecido em uma sessao qualquer da Mostra, fico sabendo que ele gostou por mostrar como cada pessoa reage diferente diante da situação: uns mais egoístas, outros apreensivos. Ok. Mas nada novo, não? E sem grandes profundidades. Sei lá. Vai ver eu que ando chato demais mesmo.

Tô fora, tô dentro

Tentei garantir ingresso para a sessão de sábado para "Seguindo em frente". Ingressos destinados à troca antecipada: esgotados. Para não me ver no perrengue de enfrentar fila no dia, já na abertura da bilheteria (não estou certo disso, mas até onde sei há uma reserva de ingressos para venda no dia, destinados ao público não credenciado e aos credenciados sem ingresso antecipado), optei por ver o uruguaio aspirante ao Oscar 2010: "Mau dia para pescar". Fico sabendo agora pelo Cinemadicto, blog de meu amigo Roger Tahira (e que todo ano faz uma cobertura exemplar dos filmes da Mostra) que a película deixa a desejar. Agora já foi. Torcer então para ter melhor impressão que a dele.
Melhor sorte para as sessões desta sexta. Fica a dica para o documentário "Rock Brasileiro - história em imagens". Soube do filme diretamente de sua roteirista, Kika Serra. Explico. A moça é corresponsável, ao lado de MdC Suingue, pelo site Caipirinha Appreciation Society, programa de rádio online gravado no RJ para a Universidade de Londres. Sou ouvinte constante da dupla e por facebook foi que soube do doc. A princípio seria distribuído apenas para bilbiotecas de escolas. Foi exibido no Festival do Rio e agora o filme desembarca nas salas da Mostra. Nas palavras de Kika, embora a "encomenda" fosse para ser algo mais didático, "conseguiram contrabandear algumas discussões bacanas para o longa". É conferir então.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Comentários rápidos e rasteiros

MARADONA (ESPANHA/FRANÇA), de Emir Kusturika

Deve ser visto com algumas concessões. Kusturica não esconde a "babação" por Dieguito e isso fica claro desde o início, quando o descreve como Sex Pistols e Deus do futebol. Mas também não esconde do espectador os deslizes da vida do jogador. Alguns escorregões do filme, como o excesso de referências pop logo no início, não retiram dele a qualidade final. O resultado é realmente bom! A montagem é excelente. Prova disso é a aparição, decorrer de todo o documentário, de explicações sobre a doutrina e os rituais da Igreja Maradoniana. Grandes momentos de humor! Kusturica também absolve Maradona quanto ao famoso gol de mão na Copa de 86, ao lhe dar uma conotação política, como sucedâneo da Guerra das Malvinas (vale lembrar que o gol foi marcado no jogo contra a Inglaterra, com quem a Argentina se envolveu no conflito no início dos anos 80). Ótimo filme, de leveza ímpar, com bons momentos de emoção, como no diálogo sobre as filhas. Vale o ingresso. o Balaio recomenda! (ps: era para ser comentário mais curto, mas me empolguei)


POLÍCIA, ADJETIVO (ROMÊNIA), de Corneliu Porumboiu

Outro que vale o ingresso. Início um tanto cansativo. Muita coisa acontece, mas em silêncio. Ao contrário do longa anterior do romeno, "À Leste de Bucareste", neste os diálogos são mais escassos, ao menos no início. Em vez disso, vemos apenas o trabalho de um policial em sua rotina de vigilância a um grupo de adolescentes, com vistas a dar o flagrante por tráfico de drogas. Quando os diálogos aparecem, no entanto, o filme ganha em ritmo e humor. Humor que não esconde os temas centrais: uma reflexão sobre o papel da polícia, o rigor da lei, a questão da punição do usuário de drogas, etc. Destaque para os diálogos entre o protagonista e sua esposa, sobre a língua romena, e entre ele e seu chefe, esta última verdadeiro debate filosófico a partir da definição dos temas debatidos (consciência, moral, lei, polícia) retirada do dicionário. Veja!

MOTHER (COREIA DO SUL), de Bong Joon-Ho

Concorrente coreano a uma das indicações ao Oscar deste ano. Ao acompanhar o drama de uma mãe disposta a tudo para livrar o filho doente mental da condenação por assassinato, o filme impressiona pela forma de contar uma história envolvente e com boas reviravoltas. Uma sopa de gêneros, do drama e do policial ao bizarro e grotesco, passando pela comédia (predomintante em todo o filme). O tom de comédia e algumas bizarrices- como a do casal que transa soletrando pratos italianos - parecem ser a tônica do cinema atual coreano (ao menos dos que tenho visto). Ótimas tomadas também contribuem para fazer deste um bom filme. Também pode ser visto sem medo de se perder o ingresso! O Balaio recomenda!!

AMEREEKA (EUA, CANADÁ, KUAIT), de Cherien Dabis

O mais fraco até agora, pode ser deixado de lado sem o receio de se estar perdendo um grande filme. Está longe de sê-lo. Sobram clichês sobre imigrantes nos EUA, sobre os conflitos no Oriente Médio, o preconceito dentro do território americano. Alguns bons diálogos e a discussão dos temas fazem com que o filme tenha bons momentos. Por isso não é de todo fraco, mas não é imprescindível.

domingo, 25 de outubro de 2009

MUSAS DO BALAIO # 2

MARIANA XIMENES em "Hotel Atlântico", de Suzana Amaral

sábado, 24 de outubro de 2009

Primeiro dia

Apenas algumas breves linhas sobre os primeiros filmes da Mostra (até porque é o que "cabe" fazer por ora: cheguei em casa duas da manhã, fui dormir às 3, acordei à 9h40 e daqui a pouco, 12h, já tem sessão de "Maradona").

SEDE DE SANGUE: Muito bom! talvez cause estranhamento aos olhos do público em geral, mas nem tanto aos dos cinéfilos da Mostra. Não atinge a excelência de "Oldboy", longa anterior do mesmo diretor, mas consegue ser ainda mais inventivo. Neste predomina o tom hilariante das situações cômicas, ainda que sob o pretexto de "terror". Poderia ser um pouco mais curto, ter reduzida uma ou outra sequência, mas ainda assim vale conferir. Merecido o Prêmio do Júri em Cannes 2009 (a exemplo do que já aconteceu com "Oldboy" em 2004). Veja!!








A FITA BRANCA: Não há uma única imagem ou diálogo sobrando no roteiro. Jogo bastante intricado de significantes. As metáforas pululam, embora sutilmente e praticamente imperceptíveis. Filme sobre o convívio humano. o Ser humano é - se apropriando da parte da fala de uma das personagens - é o lugar por excelência da maldade, inveja, ignorância e brutalidade. Da hipocrisia também, pode ser acrescentado. Tudo a conduzir à guerra, sob o pretexto de vingança. Há espaço para a esperança, representada pela criança que cuida do pássaro ferido. A pureza de seu ato prescinde da fita branca que seu irmão carrega a mando do pai com o intuito de que se lembre de ter uma conduta pura. Não é um filme fácil, mas maravilhoso. O Balaio indica. Corra ver!

MUSAS DO BALAIO # 1

O cinema, em seus primórdios como arte popular, funcionava como "teatro filmado" exibido em parques de diversões. Importante desde sempre, portanto, seu apelo popular (em sentido amplo, de alcance maior de pessoas). Cresceu como arte e suas estrelas continuam exercendo fascínio no público em geral. Não teria a mesma graça se não gerasse alguma fantasia mínima, campo da fantasia por excelência. Quem não "baba" ao ver uma musa (ou muso, pra quem prefira) na telona, muitas vezes valendo só por esse "detalhe" o ingresso para o filme? Tenho minhas eleitas também, em quantidade que só aumenta a cada filme visto. Pensando nisto uma nova seção aqui no Balaio é inaugurada, com mote na 33ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Apanhado mais que eclético, portanto.

Neste primeiro número, primeiro dia de Mostra, a beleza asiática de um assombro de atriz. Kim Ok-Vin arrebenta (em vários sentidos) em "Sede de Sangue", de Park Chan-Wook.
Vampirinha deliciosamente malvada!

KIM OK-VIN, de "Sede de Sangue"

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Domingo e segunda

Dando continuidade às últimas postagens e prosseguindo na agenda do Balaio nestes primeiros dias de Mostra:

Dia 25/10, domingo

12:00 - Reserva Cultural - "À Procura de Elly" (Irã) - Indicado iranino ao Oscar deste ano.

15:50 - Bombril 1 - Outra procura, desta vez "À Procura de Eric" (Inglaterra), de Ken Loach

20:00 - Unibanco Arteplex 1 - "Hotel Atlântico" (Brasil), de Suzana Amaral

22:50 - Cinesesc - "Aconteceu em Woodstock" (EUA), de Ang Lee

Outros do dia: "A Falta que nos Move", "Alga Doce". "35 Doses de Rum", "A Todo Volume", "Ervas Daninhas", "O Menino Peixe", "Tokio"


Dia 26/10, segunda-feira

21:05 - Cinesesc - "O Primata" (Suécia), de Jesper Ganslandt

22:30 - Bombril 2 - "Katalin Varga" (Hungria, Romênia), de Peter Strickland

Outros do dia: "Amanhã ao Amanhecer", "O Aniversário"

Este blog ainda não tem um palpite para a programação de terça-feira. Alguém se arrisca a indicar algum?

Indique os seus preferidos da Mostra

O Balaio completa um ano de vida e uma nova Mostra de Cinema tem início em sampa.
Ajude este blogueiro enviado dicas de filmes que tenha visto. Podreiras também devem ser alertadas, para o bem geral da nação cinéfila.
O endereço eletrônico ficará a disposição no canto direito da tela durante toda a Mostra.
Conto desde já com sua colaboração.
Vamos socializar as informações!

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Primeiras escolhas de uma maratona cinéfila

Acho que não convém esmiuçar o contéudo do que rola na Mostra por aqui. Para não variar, a lista de filmes é enorme. E ao que parece a qualidade geral dos filmes deste ano melhorou (obrigado, Cakoff). O site da Mostra já está no ar e permite viajar na programação. É arregaçar as mangas e caçar as pérolas no meio de tantos títulos.
Por aqui vou apenas compartilhando os meus "eleitos" (blog é espaço pessoal, não?).
Pondo a agenda com antecedência, twittando diariamente sobre os imperdíveis e sobre as "bombas", analisando uma ou outra preciosidade (e podreiras também!).
Por ora não estou tão preocupado com o que vai ou não entrar em cartaz depois. Um ano em que não vi muita coisa no circuito comercial me anima a ver o que tiver vontade na Mostra, seja ou não provável lançamento futuro.
Eis os escolhidos para começar a maratona:
Dia 23/10 - Sexta-feira, duas sessões do Cinesesc
20:40 - "A Fita Branca" (Áustria, Alemanha, França, Itália), de Michael Haneke - Ganhador de Cannes deste ano e concorrente da Alemanha ao Oscar
23:20 - "Sede de Sangue" (Coreia do Sul), de Park Chan-Wook - do mesmo diretor do excelente "Oldboy"
Outros do dia: "Voluntária Sexual", "Vício Frenético", "35 Doses de Rum", "O Mundo Imaginário de Dr. Paranassus", "A Todo Volume"
Dia 24/10 - Sábado
12:00 - Reserva Cultural - "Maradona" (Espanha, França), de Emir Kusturica
15:50 - Reserva Cultural - "Polícia, Adjetivo" (Romênia), de Corneliu Porumboiu - concorrente romeno ao Oscar deste ano, do mesmo diretor de "A Leste de Bucareste"
19:20 - HSBC Belas Artes - "Mother" (Coreia do Sul), concorrente da Coreia ao Oscar
22:00 - Unibanco Augusta 3 - "Amreeka" (EUA, Canadá, Kuait)
Outros do dia: "Distante nós vamos", "O Menino Peixe", "Ressurreição de Adam", "Los Viajes del Viento"

"Chegou, chegou, tá na hora da alegria..." ou "É hoje o dia da alegria"

Caros amigos/leitores deste espaço cinéfilo mas que faz vez ou outra suas homenagens à música. E a outras manifestações artísticas. À arte. Assim como o amor, linguagem universal.
Arte. Campo de crítica, mas também de ode à beleza, estética ou abstrata. Campo de inconformismo, de desassossego, mas também de paz espiritual, de descanso para os olhos, para os ouvidos.
Enfim. Perdoem-me a empolgação. Mas tal se deve ao fato de completar-se um ano de blog.
Um ano de comentários e dicas. De compartilhamento de experiências. Um ano de Balaio Baio.
Sim, este blog amador que surgiu nos dias que antecederam a Mostra de Cinema de SP no ano passado resistiu ao amadorismo, ganhou alguns poucos seguidores contumazes e outros tantos novos amigos. Aumenta a responsabilidade quanto a manter um conteúdo ao menos sazonal. Mas aos poucos vamos nos comunicando, vou mantendo uma nesga de pequenos pontos de vista sobre algo que tenha chamado a atenção. Aos poucos driblo as tais "atividades oficiais" que têm me tomado tanto tempo e insiro mais textos por aqui.
Por ora, É CHEGADA MAIS UMA MOSTRA INTERNACIONAL DE CINEMA DE SAO PAULO. Que delícia!
O cartaz deste ano, elaborado pelos grafiteiros "Os Gêmeos", é um dos melhores dos últimos anos (também gostei muito do criado pelo Mestre portugues Manoel de Oliveira, uns tres anos atras). Pena que eles nao liberaram todos os direitos sobre a obra. A camiseta da Mostra traz apenas parte do desenho, nao trazendo o principal boneco que me chamou tanto a atençao. Agora a curiosidade para a vinheta é grande.
E a Mostra, ah, a Mostra!
Para ao menos dar uns pitacos sobre o que eu for vendo da programação o Twitter será a ferramenta mais utilizada. Boa chance para começar a usar.
Por aqui a agenda do que eu for ver, com antecedencia de alguns dias. Alguns comentarios breves também terão seu espaço e, na medida do possível e de acordo com as grandes surpresas que forem surgindo, algum espaço maior dedicado a um ou outro texto.
Nos vemos na Mostra?
ps: Agora o Balaio tem tb e-mail!!!
este espaço ainda prefere os valiosos comentários diretos no blog, mas tb agradece aos tímidos que prefiram escrever por correio virtual!

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Clipes do Balaio # 25 - Viva o Mestre Ataulfo!!

"Gosto de Maria Rosa mas quem me dá prosa é a Rosa Maria"...
Verso singelo de Laranja Madura, do Mestre Ataulfo Alves, que tem nos proximos finais de semana shows em homenagem ao centenário de seu nascimento, como já comentado aqui. Neste "Clipes da Semana", muito bem defendida no recém extinto Villaggio Café por Chico Teixeira, do Clube Caiubi de Compositores. Apenas uma ressalva quanto ao vídeo: do falatório pós apresentação, só a primeira parte se aproveita quanto ao tema. Mas enfim, a execução em si da música salva o vídeo.
Mas antes desse vídeo, uma preciosidade histórica: Orlando Silva dando uma pequena explicação sobre Atire a Primeira Pedra, parceria de sucesso entre Ataulfo e Mário Lago. A palhinha que se segue é maravilhosa! Também executando o clássico, o trio Revista do Samba. "Perdão foi feito pra gente pedir"!
Meu Lamento é a canção seguinte, interpretada pela banda Dona Zica. Banda que tem entre suas cantoras Anelis Assumpção, uma das atrações do CCSP.
Finalizando com "chave de diamante", o próprio Ataulfo em cena. Literalmente. Em aparição elegante no filme "Meus Amores no Rio" (1959), de Carlos Hugo Cheistensen. No começo da cena, ele canta Vida de Minha Vida. Depois emenda o também clássico Pois É.
"Mulher a gente encontra em toda parte/Mas não se encontra a mulher que a gente tem no coração"! Pois é!!





terça-feira, 8 de setembro de 2009

DESCANSO

Escrevo porque sofro.
Torna-se o lápis, então,
Cortante instrumento a rasgar a carne,
a sangrar a alma.

Antes de instrumento de tortura
é um afiado bisturi
a extirpar do corpo o incômodo tumor.

Solitário busco, na exteriorizaçao textual,
exorcizar todo sofrimento
dirigindo-me a um eventual, futuro e desconhecido leitor.

Se não atinjo meu intento
também não alimento minha dor.
E resta sempre o consolo em saber que
tal atividade me trará o sono e, com ele,
descanso para o corpo e para o espírito.
Daniel Luppi

sábado, 5 de setembro de 2009

Na cadência bonita do samba

No dia 02.05.1909 nascia, em Miraí/MG, o cantor e compositor Ataulfo Alves.
Em 02.05.2009, centenário de seu nascimento, muito pouco se falou a respeito. Pai de incontáveis sambas memoráveis, é mesmo estranha a apatia da imprensa, exceção feita a um ou outro veículo especializado. Televisão então, nem dá para contar mais.
A história musical do Mestre Ataulfo tem início quando já radicado no Rio de Janeiro: em 25.04.1933, Almirante grava Sexta-feira. Desde então foram inúmeros sucessos, nunca menos que um por ano. Seus primeiros sucessos foram Pelo Amor Que Tenho a Ela (1936, parceria com Antônio Almeida), Até Breve (1937, com Cristóvão de Alencar), Errei, Erramos (1938), Meu Pranto Ninguém Vê (1938, com Zé da Zilda), Sei que é Covardia (1939, com Claudionor Cruz), Ó Seu Oscar (1940, com Wilson Batista), O Bonde de São Januário (1941, com Wilson Batista), Leva meu Samba (1941).
1942 foi o ano estouro da canção que se tornaria o maior sucesso deste compositor, um dos que possuem maior repertório já gravado: Ai Que Saudades de Amélia, parceria com Mário Lago. Atire a primeira pedra quem nunca cantarolou "Amélia..."! Atire a Primeira Pedra, aliás, é o título de outro enorme hit de Ataulfo, novamente em parceria com Mário Lago (1943).
Impossível enumerar todos os seus sucessos, que são muitos. Destaco, além das canções já citadas, Errei Sim (1950), Mulata Assanhada ("... que passa com graça/fazendo pirraça/fingindo inocente/tirando o sossego da gente", de 1956), Meus Tempos de Criança ("... que saudade da professorinha...", também de 1956), Vai, Mas Vai Mesmo (1959), Corda e Caçamba (1962), Na Cadência do Samba (1962, com Paulo Gesta), Laranja Madura (1966) e Você Passa Eu Acho Graça (1968, com Carlos Imperial).
A ausência de comemorações começa, enfim, ser parcialmente compensada agora, com o lançamento dos dois CDs do projeto "Ataulfo Alves 100 Anos". Também boa a programação do Centro Cultural São Paulo, que neste mês homenageia o mestre com uma série de shows: Elza Soares e Milena, Maria Alcina e 2ois, Alaíde Costa e Ferriani, Fabiana Cozza e Mateus Sartori, Zezé Motta e Graziela Medori e Ataulpho Alves Jr. e Anelis Assumpção. Anelis, filha de Itamar Assumpção, já havia feito show à frente de sua banda Dona Zica em homenagem a Ataulfo, alguns anos atrás. Vale lembrar ainda que Itamar também tem um disco só com músicas do compositor.
Veja abaixo as datas dos show. Os ingressos são gratuitos e devem ser retirados com duas horas de antecedência.
05/09, 19h - Elza Soares e Milena
06/09, 18h - Maria Alcina e 2ois
12/09, 19 h - Alaíde Costa e Verônica Ferriani
13/09, 18 h - Fabiana Cozza e Mateus Sartori
19/09, 19 h - Ataulpho Alves Jr. e Anelis Assumpção
20/09, 18 h - Zezé Motta e Graziela Medori
Fonte bibliográfica: "A Canção no Tempo - 85 anos de Músicas Brasileiras", vols. 1 (6ª ed.) e 2 (5ª ed.), de Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello, Editora 34

Ainda Gainsbourg Imperial. Show Histórico



Eu não ía nem comentar nada a respeito do show de ontem. Qualquer coisa que dissesse, pensei, não estaria à altura do maravilhamento provocado em mim (chorei em vários momentos, confesso).
Como traduzir em palavras a sensação de estar vendo um show histórico, em que o também histórico baterista Wilson das Neves insere a cuíca no cancionário popular francês, acompanhando a mais francesa de todas as inglesas e musa de Gainsbourg , Jane "Blow Up" Birkin? Como descrever a preciosidade de se assistir a um trio de guitarristas dando um show a parte no palco (dentre eles Nelson Jacobina, autor de "Maracatu Atômico")? E as divas Thalma de Freitas e Nina Becker então, com suas performances de dar inveja a Brigitte Bardot? Nina e seus vestidinhos curtos, de causar confusão em sujeito casado por não desgrudar os olhos de suas pernotas e de sua presença cativante no palco! Caetano e seu filho Moreno dividindo o palco com Jane. O prazer de ver praticamente toda a Orquestra Imperial reunida (apresentações anteriores dela por São Paulo se realizaram com time bem menor!). Vale anotar que a concepção e a direção artística foi de Stéphane San Juan, o francês cantor e percussionista da O.I., casado com Thalma de Freitas. A produção musical ficou por conta dos megaprodutores de respeito e também integrantes da O.I., Berna Ceppas e Kassin. Repito: show histórico. Microfonias, som de alguns instrumentos que sumia ou abaixava vez ou outra, ausência de improvisos da Orquestra (até mesmo pela natureza do projeto, que exigia obediência absoluta ao script). Nem esses problemas técnicos tiraram a beleza do show. Se particularmente fiquei um pouco frustrado pela ausência no repertório de "Je T'Aime Moi Non Plus" - “Eu não posso mais cantá-la porque o meu parceiro está morto. Eu nunca a cantei com outra pessoa que não fosse ele”, justificou Birkin em entrevista -, a falta restou completamente compensada pelo belo apanhado de músicas escolhidas pelo maestro do show, o arranjador Jean-Claude Vannier. Não poderia deixar de citar também a curiosa cena dos metais e percussão de um grupo que se sagrou animando bailes no Rio de Janeiro sendo comandada por um músico francês, com repertório que sai daquele que a O.I. até então apresentava. Não tenho dúvidas de que ela incorporará parte dele em suas apresentações futuras.
Eu já disse que o show foi histórico? Pois foi. Não ía comentar nada. Mas não resisti.
Crédito das fotos: Daigo Oliva/G1 (as duas primeiras) e Reinaldo Canato/Entrelinhas (as duas restantes).

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Clipes do Balaio # 24 - Gainsbourg Imperial

"Johnny (Jane Birkin) é uma garçonete que trabalha em uma lanchonete de beira de estrada, onde vive solitária e carente. Ela começa a se interessar pelo caminhoneiro Krassky (Joe Dallesandro), apesar dos alertas de seu chefe, Boris (René Kolldehoff), em relação à homossexualidade do rapaz. O fato é que, talvez por causa da aparência masculina de Johnny, Krassky também começa a se interessar pela garçonete, o que atiça o ciúme de Padovan (Hugues Quester), namorado do caminhoneiro."
Esta é a sinopse de "Paixão Selvagem", título em português de "Je T'aime Moi Non Plus", longa de 1976 do multitalentoso Serge Gainsbourg. Transgressor e marginal, como o próprio diretor. A canção título do filme embalava os amassos entre casais mundo afora nos anos 70 e foi proibida pela censura do regime militar brasileiro, que a considerou atentatória à moral e aos bons costumes já que Serge Gainsbourg, cantor e compositor desse e de inúmeros outros sucessos, e sua mulher, Jane Birkin, mais gemiam do que cantavam, como em plena relação sexual. Por essas e outras, Serge Gainsbourg ficou conhecido como "Rei da Canção Erótica".
O SESC/SP, dentro do "Ano da França no Brasil", dedicou ao artista, desde 05.06 e até o próximo dia 07.09, a exposição "Gainsbourg - Artista, Cantor, Poeta, Etc...", na unidade da Avenida Paulista.
Um dos mais importantes artistas do século XX é apresentado ao visitante por meio de totens audiovisuais - com fotografias, vídeos e textos - divididos em 4 fases da vida e carreira de Gainsbourg. O ínicio como artista plástico - "pintor maldito" -, pianista de bar, o flerte com o jazz e o blues, o trabalho como compositor de "hits" e como diretor artístico de ídolos franceses no final dos anos 60, e os sucessivos escândalos. Os primeiros já foram mencionados: a canção "Je T'aime Moi Non Plus" de 1969 e o filme homônimo de 1976. Seguiram-se a esses o "caso da Marselhesa", de 1979, em que ele chocou a França ao demonstrar sua aproximação com a cultura rastafari, interpretando o hino francês em versão reggae. Se não bastasse tudo isso, ainda dirigiu outros filmes, trabalhou com publicidade, publicou um romance decadente e um livro de fotos eróticas. De fato, ícone da contracultura!
Fechando a exposição, em grande estilo, o SESC patrocina hoje e amanhã o show "Gainsbourg Imperial", com ingressos para os dois dias esgotados em poucos minutos.
No palco, a Orquestra Imperial executará os principais sucessos de Gainsbourg na companhia do arranjador Jean-Claude Vannier, parceiro histórico do homenageado, além de sua musa Jane Birkin e de Caetano Veloso. Já dá até para se empolgar (para ser comedido) imaginando Jane, Nina Becker e Thalma de Freitas gemendo juntas na execução de "Je T'aime..."!!! Imperdível mesmo! Melhor que isso só se a filha de Serge e Jane, Charlotte Gainsbourg (atualmente em cartaz na telona em "Anticristo", de Lars von Trier) também estivesse presente.
Mas sem mais ladainhas.
Aos clipes da semana, evidentemente em homenagem ao pervertido (graças a Baco!).
São inúmeros os vídeos disponíveis na internet. Aqui apenas alguns, mais representativos dessas diversas faces do compositor, do erótico ao pop, passando pelo jazz e pelo blues. Evidentemente não poderia faltar Je T'Aime Moi Non Plus, que abre esta série especial - resisti a tentação de inserir trecho do longa, mas não a de colocar aqui um link, impróprio para menores! -. Já que o sujeito é o "Rei da Música Erótica", seguimos com Sea, Sex and Sun, não propriamente em vídeo, mas com slides do cantor. Após, acompanhado tão somente de seu inseparável cigarro em La Javainese e a curiosa história do picotador de bilhete de trem em Les Poinçonneur des Lilas, onde a imagem também vai se picotando (para ver a versão mais antiga, a original de 1958, clique aqui). A pop The Initials BB, homenagem a Brigite Bardot após o fim do relacionamento. Flertando com o blues no início da carreira, Le Claqueur de Doigts, contrastando com a belíssima La Chanson de Prevert - cuja sonoridade lembra um pouco os filmes de faroeste -. Rodeado de bailarinas em Monsieur William e Elisa (clique aqui para ver outra versão de Elisa, com Jane Birkin). Na sequência, flertando agora com o yeah-yeah-yeah, a roqueira Qui Est In, Qui Est Out. Por fim, a jazzística instrumental All The Things You Are.




















Cérebro Eletrônico + Porcas Borboletas

Hoje, no Studio SP.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Agradecimentos


Nunca este espaço amador, atividade secundária deste blogueiro principiante, foi tão visitado como nestes últimos 15 dias.
Quero agradecer nesta postagem - único intuito dela -, os visitantes já sócios do espaço e os novos amigos que por aqui passaram para deixar seus pitacos:
- aos mais constantes visitantes: o balconista Adilson Thieghi, do Bar1211, e o "fornecedor de cinematinoina viciantus" do Cinemadicto, Roger Tahira;
- aos hermanos do Quiero Vale Quatro, salud! (como acharam o Balaio!?!?!);
- ao povo do Minerva Pop, em especial ao Anselmo, um abraço;
- ao grupo Meia Dúzia de 3 ou 4, galera que faz um som muito bom e participou deixando seus pitacos sobre o fechamento do Villaggio Café, meus agradecimentos e minhas felicitações pelo ótimo som!
É com satisfação que recebi o comentário de todos vocês e a visita de tantos outros anônimos.
Também não poderia deixar de comentar, extremamente envaidecido, a visita ilustríssima do cantor/compositor/ator Maurício Pereira, que não só visitou o blog como ainda mandou por twitter a todos os seus contatos o texto sobre o Villaggio. Para um fã como eu, seguidor de seu trabalho tanto solo quanto à frente do Turbilhão de Ritmos (eu estava presente na plateia na gravação desse show!) ou com Os Mulheres Negras, não há maior honra e estímulo para continuar, ainda que com mal traçadas linhas.
Mais uma vez, obrigado a todos!

Ainda sobre o Villaggio Café

Festão a de despedida.
Showzaços em clima informal. Reunião de amigos na "sala de casa".
Em vez de comentar, melhor disponibilizar o link para o "texto oficial".
Com a palavra Zé Luiz Soares, co-proprietário do Villaggio:

http://lentedoze.blogspot.com/2009/08/villaggio-cafe-saga-ultimo-capitulo-o.html

É TUDO VERDADE - Parte 2

Pela primeira vez desde que foi concebido em 1996 pelo crítico Amir Labaki, o festival de documentários "É Tudo Verdade" foi dividido em duas partes. A primeira teve lugar no primeiro semestre, com as mostras competitivas. Desde ontem e até o dia 07.09, sempre com exibições na Cinemateca, as Mostras Especiais é que terão vez. São três as mostras especiais: "O Estado das Coisas", "50 Anos de Arraial do Cabo - Homenagem a Saraceni" e "Retrospectiva Louis Malle Documentarista".
Abaixo, a programação completa dos dias restantes. Sinopses completas nos sites da Cinemateca e da organizaçao do evento.

02.09 quarta
14h30 CARTAS AO PRESIDENTE
16h30 ARRAIAL DO CABO ETNOGRAFIA DA AMIZADE
18h30 ÍNDIA FANTASMA – EPISÓDIOS 1 E 7
20h30 FORDLÂNDIA

03.09 quinta
14h30 A RAINHA E EU
16h30 FORDLÂNDIA
18h30 PLACE DE LA REPUBLIQUE
20h30 OLHOS BEM ABERTOS

04.09 sexta
14h30 ECOS
16h30 OLHOS BEM ABERTOS
18h30 O PAÍS DE DEUS
20h30 UM PRESIDENTE A LEMBRAR – NA COMPANHIA DE JOHN F. KENNEDY

05.09 sábado
14h30 CARTAS AO PRESIDENTE
16h30 UM POVO NAS SOMBRAS
18h30 AND THE PURSUIT OF HAPPINESS
20h30 A RAINHA E EU

06.09 domingo
14h30 UM PRESIDENTE A LEMBRAR – NA COMPANHIA DE JOHN F. KENNEDY
16h30 CAPTURANDO A REALIDADE: A ARTE DO DOCUMENTÁRIO
18h30 ARRAIAL DO CABO DEBATE
20h30 VIVE LE TOUR HUMANO, DEMASIADAMENTE HUMANO

07.09 segunda
14h30 ÍNDIA FANTASMA – EPISÓDIOS 1 E 7
16h30 PLACE DE LA REPUBLIQUE
18h30 O PAÍS DE DEUS
20h30 AND THE PURSUIT OF HAPPINESS

Carlão e a Sessão Comodoro do mês: Frank Zappa + Boca do Lixo

Carlos Reichenbach, ou Carlão, como é conhecido no meio cinéfilo, diretor de importantes filmes nacionais - "Almas Corsárias", "Dois Córregos", "Falsa Loura" -, também é o responsável pela Sessão Comodoro. Trata-se de um projeto pessoal do cineasta, em parceria com o Cinesesc, para exibição de filmes raros e alternativos, ou apenas fora do circuito comercial. Anote aí: toda primeira quarta-feira do mês, entrada franca, às 21h30 - distribuição de ingressos a partir das 21h -, no Cinesesc (R. Augusta, 2.075).
Para a sessão de hoje, duas jóias raras: "MINAMI EM CLOSE-UP - A BOCA EM REVISTA", de Thiago Mendonça, e "200 MOTÉIS", de Frank Zappa.
O primeiro traça a trajetória da revista "Cinema em Close-up", que nos anos 70 tornou-se um sucesso de vendas, e de seu editor Minami Keizi, para contar a história dos filmes da Boca do Lixo e seus personagens.
O filme do rockeiro que foi até candidato à Presidência dos EUA é "um happening audiovisual que celebra a irreverência, o non-sense e o deboche", segundo sinopse do blog do Carlão - "Olhos Livres" -, que traz ainda inúmeras outra informações e links sobre o filme. No elenco a presença de Ringo Starr.
Sessão Imperdível.

Um Anormal

Jonas Sá complica a vida de todos que pretendam rotulá-lo. Ele faz música. E ponto. Seu som varia entre o pop a la Lulu Santos - com letras bem mais "alternativas", é bom que se diga - ao heavy metal. As letras, aliás, tanto podem ser em português, como a que dá título ao seu primeiro CD, "Anormal", como em inglês (a maioria), ou ainda em espanhol, como no mambo ou no delicioso chachacha que executa nos shows, repertório de seu próximo CD, "Tropical". A maioria de suas canções têm quilate para agradar ao "grande público", virando hit em rádio ou em novela da Globo, e aos mais exigentes críticos.
No palco, o baixinho ainda arrebenta em performances. Sua "dancinha" situa-se entre o cômico e o contagiante. Um China (Sheik Tosado, Del Rey) ainda mais acelerado.
A banda que lhe dá apoio tem talento de sobra. Basicamente formada pela ótima "Do Amor" - banda base também de Nina Becker e de Caetano Veloso -: Ricardo Dias Gomes (baixo), Gabriel Bubu e Gustavo Benjão (guitarras), Marcelo Callado (bateria) e Daniel Vasques (sax). No showzaço que acabo de ver no Sesc Pompéia, dentro do projeto "Prata da Casa", apenas o guitarrista Gabriel Bubu não complementava o elenco - ensaia para o especial "Gainsbourg Imperial", nesta quinta e sexta -.
Não conhece Jonas Sá? Não? Então busque conhecê-lo: www.myspace.com/jonassah.
Também vale a pena ler a reportagem de Bravo! sobre os novos nomes da nova música brasileira.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

4ª Mostra Mundo Árabe de Cinema

Com abertura oficial para convidados ontem, a Mostra Mundo Árabe de Cinema chega a sua 4ª edição . São 16 filmes em 4 locais de exibição, com programação até o dia 13.09, sendo que de 08 a 12 não há exibições.

Garantia de belas imagens, de contato com a rica cultura árabe e, evidentemente, com o horror da guerra e da diáspora forçada.
Destaques para a "Trilogia do Deserto", de Nacer Khemir, "Caos" e "A Outra", do egípcio Youssef Chahine e, dentro da seleção "Mostra Especial Relatos do Iraque", "As Tartarugas Podem Voar", de Bahman Ghobadi. Também será exibido "Sob as Bombas", já presente na 32ª Mostra Internacional de São Paulo (achei fraco, ver abaixo).

Para a lista completa de filmes, as salas e horários de exibição, consulte o site oficial da Mostra. E boa viagem!

Boa intenção sob bombas


De fato, sob bombas, ruim mesmo este "Sob as Bombas", co-produção França/Líbano/Reino Unido/Bélgica.
O argumento é interessantíssimo: em parte documental, filmado logo após o ataque ao sul do Líbano em 2006, e ainda com seus moradores - que são "entrevistados" no filme - perdidos em meio aos escombros. O diretor Philippe Aractingi conta a história de Zeina, xiita que vive em Dubai, mas volta à pequena aldeia no sul do Líbano para resgatar seu filho. Só consegue entrar pela Turquia após o cessar-fogo e conhece Tony, único taxista que aceita conduzí-la até o vilarejo.
Boas intenções no filme, que tem argumento interessantíssimo mas muito, muito mal conduzido. Fraco mesmo. Se a história é comovente - vale lembrar que as imagens são reais -, a opção pelo "dramalhão" torna o filme óbvio. E se aproveita de um "drama fácil" - o da mãe que não tem notícias do filho após a eclosão de uma guerra.
Se um documentário já não teria um grande impacto por conta das constantes imagens do terror das guerras no Oriente Médio, as atuações ruins e a fraca direção disperdiçam a boa idéia de rodar uma ficção em meio ao caos real.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Um "novo" heróico?!?!?

Triste e vergonhoso.
Desde ontem tem "bombado" no twitter o vídeo da Vanusa cantando - melhor dizendo: assassinando - o hino nacional em um evento na Assembleia Legislativa paulista. Um horror. Confesso que não consigo mais ver o vídeo por inteiro. Uma vez bastou, tal a raiva que dá da cantora, que erra a letra, troca palavras, repete versos, pula trechos e "improvisa" em excesso. O sujeito que fazia propaganda do guaraná Dolly com o Cléber Bambam - alguém se lembra dessa outra "tosqueira"? - só podia mesmo ter sido rebento dessa mulher. Mais não comento. E me recuso a por o vídeo por aqui. Quem quiser que o veja no youtube. Limito-me a disponibilizar o link: http://www.youtube.com/watch?v=j46rP-SgwaQ&feature=related.

Deu certo?


Perguntaram-me outro dia se eu tinha visto e o que achei de "Se Nada Mais Der Certo", de José Eduardo Belmonte. Respondo por aqui, apesar de, a princípio, não ter me animado a escrever sobre o filme, que não me agradou muito não.
Visto na última Mostra Internacional de Cinema de SP no mesmo dia em que também vi o fraquíssimo "A Duquesa" e o maravilhoso "Aquele Querido Mês de Agosto", justamente entre um e outro, também o situo entre os dois outros em termos de "qualificações".
É um bom filme, com ótimas interpretações de Cauã Reymond e Jorge Miguel, de Luiza Mariani e da estreante em longas Caroline Abras. Seus personagens são levados à margem da sociedade, cada qual por um motivo diferente, e mantêm-se unidos por um laço afetivo. Há boas idéias no roteiro, excelentes intenções. Mas apesar de bem filmado, o filme escorrega em inúmeros clichês ao tratar das "misérias nacionais". Não me agradou o suficiente para que eu o recomendasse. Mas como felizmente eu não sou dono da verdade, há quem tenha gostado do filme, como Paulo Santos Lima, da exigente e competente Cinética e o jornalista Ricardo Calil, da Folha de São Paulo. Ambos enxergaram uma influência de Cassavetes nesse trabalho de Belmonte. O que vi, no entanto, com base em minha mais modesta formação cinéfila - Cassavetes, confesso, é um furo que ainda preciso tapar - foram certos momentos de Beto Brant, mas, vale frisar, com tantos clichês, que acabaram por não me agradar muito no fim das contas.
Um filme que para mim não deu muito certo, apesar dos prêmios que o longa levou no Festival do Rio do ano passado - melhor longa de ficção e de melhor atriz - e no Cine Ceará deste ano - melhor filme, roteiro e ator (Cauã Reymond).

sábado, 29 de agosto de 2009

Fim de uma história musical


Infelizmente nem tudo acaba do jeito que gostaríamos que terminasse. Coisas da vida, diriam os mais doutos na arte de se equilibrar entre as idas e vindas, entre os altos e baixos dos acontecidos. Nem só de anunciar boas novas vivem as notícias, por falar em vida. Nem todas elas são alegres. Há as de morte, as de fim, enfim.
Nessa última categoria a que passo a desenvolver.
Quem me conhece já deve ter ouvido eu contar entusiasmado a minha primeira "balada" em São Paulo, em junho de 97, após uma frustrada festa junina no colégio "Santa Marcelina". Brevemente relatarei para ilustrar a importância do Villagio Café em minha história aqui em Sampa.
Pois bem. Noite de São João de 1997.
Nos primeiros seis meses desde que cheguei de Tatuí (Capital da Música, Cidade Ternura!) morei em uma pensão para estudantes na Rua Itamarati, proximidades do estádio do Pacaembu. A estratégia era ter tempo para ver com calma apartamento e colega para rachar o aluguel. Luciano, o "Goiano", foi quem dividiu comigo (e mais tarde com meu irmão mais novo) o tal apartamento. Antes disso Goiano já tinha se tornado amigo de bagunça. Foi dessa forma que aceitei o convite para ir à festa junina do Colégio Santa Marcelina. Eu recém ingressado na faculdade, não estava longe em termos de idade daquelas menininhas bonitinhas que víamos diariamente saindo do 3º colegial. O que não pensamos foi que por se tratar de uma festa de colégio, e de freiras, as tais menininhas, evidentemente, não se misturariam além das panelinhas de amigos. Pior: não contávamos que antes mesmo das 23 horas, tocando um grande sino de mão, uma das freiras viesse acabar a festa ("-Acabou, gente!", dizia ela), seguindo-se um suceder de luzes apagadas, som desligado, últimos quentões servidos.
Voltamos frustrados - e putos - para a pensão. Aí entra o terceiro personagem dessa história. Paulão, o psicólogo-filósofo-boêmio de Alagoas.
Paulo era psicólogo em Maceió e estava em São Paulo para concluir o Mestrado em fenomenologia na PUC. Gente boníssima, sempre nos propagandeava as boas noites de chorinho no Bixiga. Após sua garrafa semanal de vodka, lá ía o sujeito para suas andanças aos finais de semana no famoso bairro paulistano.
" - Que merda de boêmios vocês são para chegarem em casa antes das 23 horas? 'Vamo' embora comigo. Vou levar vocês para conhecer o Bixiga!"
Sexta-feira. Nas bancas, a Folha de São Paulo havia lançado naquele dia seu Guia da Folha. Já no táxi, com seu Guia da Folha nº 1 que trazia na capa reportagem sobre o Terraço Itália, Paulão, sem se importar com sua camiseta furada no suvaco, nos pediu permissão para, antes de irmos à esbórnia, nos levar para o tal alardeado restaurante com sua "bela vista da metrópole". Fomos apenas ao bar do Terraço Itália, mas que foi suficiente para nos deleitarmos com a vista (sim, era mesmo maravilhosa) e os fogos pululando aqui e ali na cidade. Era noite de São João, como já dito. A cereja do bolo: o garçom, Seu Raimundo, também era alagoano de Maceió. Rapidamente criou-se um vínculo de cumplicidade entre nosso anfitrião e o bom atendente. Na hora da conta, o chorinho de stenheger foi maior que as próprias doses. Por falar em chorinho, foi trançando as pernas que nos levantamos para enfim ouvir um, no tal Bixiga.
Noite que Paulão fez questão de nos levar a todos os bares da 13 de Maio, sem pagar entrada , já que " - Trouxe os meninos para conhecer a casa, só entar, tomar uma cerveja e sair", não sem antes ligar para Maceió para prestar contas a patroa - eram já três e meia da manhã quando fez a ligação - e passar o telefone para que a mulher "conhecesse os meninos", a esta altura já bem embriagados.
Se a noitada marcante de iniciação noturna em Sampa terminou com o rock - e com mais cerveja - do Café Piu Piu, ela começou com o fantástico ambiente de chorinho do Villagio Café.
O lugar era fabuloso. Pequeno mas aconchegante, o som maravilhoso. Inúmeras outras vezes voltei ao lugar, inclusive levando amigos e pessoas de fora quando vinham para São Paulo.
Pelo palco do pequeno bar da Praça Dom Orione passaram vários nomes já consagrados ou que viriam a se consagrar depois no cenário musical.
A casa sempre primou, desde sua fundação em 1992, pela qualidade da programação, isso é fato. Mas a mudança de endereço, deixando para trás a charmosa localização de outrora e se instalando na barulhenta e comercial esquina Teodoro Sampaio/Henrique Schauman talvez tenha sido o início do fim que agora se anuncia. O Villaggio Café noticiou o encerramento de suas atividades.
Se você leu este texto até aqui talvez tenha se interessado pelo lugar. E se a notícia não é alegre, cumpre então festejar ao menos a história do lugar, de quase 18 anos. Se antes mesmo de completar a maioridade já deixa órfãos vários apreciadores da boa música, que seja feita ao menos uma boa festa de despedida. E é exatamente isso que os sócios da casa resolveram fazer.
Este sábado, dia 29, será a última noite de funcionamento da casa. Provalvemente casa lotada de amigos e músicos. Músicos que irão se revezar, a partir das 21 horas, no palco aberto para quem quiser tocar, sem roteiro determinado, homenageando o Villaggio Café.
Não haverá cobrança de couvert e a alegria promete tomar conta do lugar, ainda que com a emoção natural de uma despedida, de um fim anunciado. Mas sem que uma freira venha tocar um sino de mão. Que novas luzes se acendam em outros cantos.