sexta-feira, 3 de abril de 2009

GARAPA

Destaque do "É Tudo Verdade" nesta sexta-feira, o documentário "Garapa", de José Padilha ("Ônibus 174", "Tropa de Elite") busca retratar a fome no nordeste brasileiro. Escalado para estrear na última Mostra de SP, não foi finalizado a tempo. Em Berlim, onde Padilha levou o Urso de Ouro ano passado com "Tropa de Elite", o filme agradou.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Clipes do Balaio # 20 - Maurice Jarre e "Chaiyya Chaiyya"

O que seria do cinema sem a música?
Desde o cinema mudo a canção tem uma função primordial na telona. Evidentemente esta função mudou muito de lá pra cá e até mesmo o silêncio, a ausência total de músicas, ganhou importância em muitos filmes autorais.
De qualquer forma, inconcebível pensar em cinema totalmente dissociado da música. Há diversos compositores que fizeram sua fama graças à arte das telonas, onde puderam mostrar todo o talento criativo casando perfeitamente seus acordes com os roteiros e a fotografia de outros grandes mestres.

Pois bem, esta introdução se fez necessária para que eu pudesse falar de Maurice Jarre, falecido na segunda feira passada, aos 84 anos.
Maurice foi compositor, em cinco décadas de trabalho, de grandes temas de grandes filmes. Para ficarmos em apenas alguns exemplos: "Lawrence da Arábia" (1962), "Doutor Jivago" (1965), "Passagem para a Índia", (1984), "O tambor". Também compôs as trilhas de "O ano em que vivemos em perigo", "Mad Max 3", "Atração fatal", "A testemunha", "Ghost", entre muitos outros. Foi vencedor de três Oscars, quatro Globos de Ouros, dois BAFTA e Grammy.

É de Maurice Jarre o LADO A desta semana. Aqui ele aparece regendo a execução de seu mais famoso trabalho: o tema do filme "Doutor Jivago".



Também de cinema nosso LADO B.
Aproveitando a "onda indiana" desta semana, um clássico do cinema indiano: "Chaiyya Chaiyya", da trilha do filme "Dil Se", de 1998. Em ritmo de vídeo-clipe (como quase toda cena musical no cinema bollywoodiano), uma viagem de trem vira um espetáculo de dança. Não dá para não rir em muitas cenas, dado o estranhamento causado em nosso olhar ocidental. Mas a sincronia e o ritmo são muito bons. Reparem na perfeita sincronia do rebolado da mocinha (Manisha Koirala) com os acordes musicais, já quase no final do vídeo. Esplêndido!
Dá para não achar divertido?
Bela sequencia, por sinal!


PS: vale a pena conferir o uso dessa música em "O Plano Perfeito", de Spike Lee, já mencionado por aqui quando comentei "Quem quer ser um milionário?". Aqui o link do filme com a canção abrindo a história.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

É Tudo Verdade: alguns curtas + Coutinho

Alguns pitacos pessoais sobre alguns documentários do "É Tudo Verdade" (para ver os detalhes sobre os filmes, bem como onde e quando serão novamente exibidos, clique nos links).

SELEÇÃO DE CURTAS
CORAÇÃO NEGRO: Que porcaria. Chatíssimo. 23 minutos longuíssimos nos quais os personagens retratados contam um pouco de seus dramas pessoais para que se conclua que há coisas mais importantes na vida do que bens materiais. Intenção nobre, mas conduzida de forma muito boba. Filme para emocionar americanos e para alertá-los que o consumismo é ridículo. Óbvio até neste ponto.
BEM LONGE DE CASA: Ao contrário de "Coração Negro", este despretensioso curta atinge muito melhor seus objetivos. Em apenas um quarto de hora o documentário nos apresenta Oona, menina de 9 anos filha de pais separados, e nos faz acompanhá-la em uma viagem de trem até a cidade onde seu pai mora. O detalhe é que ela faz este percurso de 15 em 15 dias, sozinha. O divórcio sob o enfoque infantil. Bem montado, as animações inseridas entre as frases de Oona nos inserem em seu universo infantil.
CHIROLA: Boa surpresa. O drama de um ex-presidiário e a "prisão fora da prisão". Sem perspectivas de acolhimento na sociedade, redescobre um sentido para sua vida cuidando de cães que, segundo seu ponto de vista, o "domesticaram". Belas conclusões (e lamentos) da filosofia popular. A fotografia em P&B é boa. Nem o excesso de closes nos cães devorando seus ossos estraga a condução da narrativa.
ZIETEK: Retrato do artista que dá nome ao documentário, especializado em esculpir mulheres em tamanho natural. O diretor atinge o intento de mostrar a qualidade do trabalho de Zietek, mas a forma como monta o curta chega a ser ofensivo. Zietek é tratado como um velho tarado pelas suas mulheres de madeira e sua esposa como uma velhinha abobalhada e condolente com o marido. Mediano.
AREIAS VERMELHAS: Excelente. Filme sobre as touradas espanholas. Desde o início, nas corridas de Pamplona durante o festival de San Fermin, até o momento em que acompanha o balé do duelo "toureiro versus touro", o narrador mantém uma ambiguidade que dá um tom de imparcialidade ao documentário. Impossível não considerar uma crueldade idiota contra os animais, mas também inviável simplesmente condenar os praticantes. O próprio narrador nos transmite suas impressões: seus medos e sua excitação antes da fuga dos touros pelas ruas, sua inquietação diante da desgraça iminente convivendo simultaneamente com a paixão e a emoçao pelo "espetáculo" e, principalmente, sua vergonha e arrependimento pela crueldade idiota pela morte "não limpa" imposta ao animal sacrificado. Filme forte, belo e impressionante!
EDUARDO COUTINHO
MOSCOU: Espécie de continuação das experimentações iniciadas em "Jogo de Cena".
Aqui, Coutinho propõe ao Grupo Galpão, de Belo Horizonte, a montagem da peça "As Três Irmãs", de Anton Tchecov. O documentário foca na preparação para a montagem, na construção dos personagens e nos exercícios de imersão do grupo. Assim como em "Jogo de Cena", Coutinho mistura o que é real com a ficção. O que é ensaio para a montagem e o que é encenação para o filme de Coutinho? Nem sempre é possível identificar na tela os limites entre um e outro.
É também um filme sobre memória e sobre a confusão entre ilusão e realidade que se opera nela.
Insisto: é imperdível!