
Após a bela abertura em "cordel", já dando o mote nordestino, o filme parte de alguns "pontos centrais" para nos contar um pouco mais sobre quem foi o "Doutor do Baião". Apresenta-nos o sertão cearense, a cidade de Iguatu, local de origem de Humberto Teixeira. Os costumes locais, sua gente, os personagens típicos da região. O vaqueiro da caatinga e sua veste de couro. A sanfona. O "consertador" de sanfona. O Cordel. A poesia. A música. O baião, que Humberto Teixeira levou para o Rio de Janeiro, urbanizou e, em parceria com Luiz Gonzaga, tornou popular no Brasil todo, conhecido e cultuado no exterior.

Sua filha, a atriz Denise Dumont, é importante figura condutora do documentário, do qual é também produtora. Logo no início, declarando não conhecer com exatidão a devida importância da obra de seu pai e com o objetivo de desvendar para si mesma quem foi o homem público Humberto Teixeira, é ela quem nos guia nessa jornada de descoberta. É ela, aliás, quem entrevista grande parte das personalidades – e são muitas – que desfilam pela tela.
Entre tantos nomes, ora a ilustrar a cultura nordestina, ora a falar diretamente de Teixeira, os saudosos Patativa do Assaré e Sivuca, o maestro Wagner Tiso, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Maria Bethânia, Chico Buarque, Zeca Pagodinho, Lenine, Otto, Gal, Lirinha e seu Cordel do Fogo Encantado, os cearenses Fagner e Belchior, os roqueiros influenciados pelo baião Raul Seixas e Os Mutantes, os internacionais Bebel Gilberto, Forró in the Dark – grupo que toca baião com sucesso em Nova Iorque – e David Byrne, são alguns dos nomes que se revezam na tela, entre uma música e outra, entre uma passagem e outra da vida do doutor pioneiro, como deputado federal e como intelectual, pela defesa dos direitos autorais no Brasil. David Byrne, responsável inclusive pela redescoberta de Tom Zé na década de 90, revela-se grande apaixonado pela música brasileira. É dele a interpretação de uma arrepiante versão em inglês para "Asa Branca"
Vale destacar que Denise não isenta o pai de críticas, o que fica evidente quando toma o forte depoimento de sua mãe, Margarida Dumont, ex-esposa de Teixeira. Pai machista, preconceituoso, que não aceitava a filha como atriz, profissão não condizente com a figura de "moça de família". Marido que interrompe a carreira da própria esposa, também atriz.
São muitas as informações, em parte narradas pela voz do próprio Humberto Teixeira. Tem-se a impressão, em alguns pontos, de se perder o "fio da meada". As peças soltas, porém, vão se encaixando, se assentando no decorrer da narrativa.

PS: tenho dúvidas da imparcialidade desses comentários. Difícil conter um certo exagero. O filme casa de forma bastante coesa grandes paixões minhas: a música (em especial a popular), fotografia (como já dito, do mestre Walter Carvalho), o povo e seus costumes e, evidentemente, o cinema-arte. É ver pra crer!
PPS: o documentário deve estrear no circuito comercial em outubro ou novembro deste ano.
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