quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

A máfia como ela é

Demorar para inserir por aqui meus comentários tem grandes desvantagens. Duas semanas após a estréia de Gomorra nas salas paulistanas já não há quase nada a ser dito sobre esse excelente filme, vencedor do Grande Prêmio do Júri em Cannes (espécie de segundo lugar) e pré-concorrente italiano ao Oscar de filme estrangeiro, fortíssimo candidato a levar a estatueta (sério mesmo que o Brasil indicou o "Última Parada - 174" ?!?!?).

Muito já foi dito sobre o filme por profissionais mais que gabaritados e extremamente competentes. O que então um amador, que sequer no jornalismo cultural tem seu ganha pão, poderia comentar sobre o filme? Levando em consideração que a maioria de meus poucos mas fiéis leitores não acompanham os cadernos culturais da mídia impressa ou mesmo da net, acredito que algumas impressões pessoais possam despertar algum interesse.

Por outro lado, uma vantagem na tal "demora" em escrever. Quando vi o filme, na Mostra, fiquei maravilhado. Mas com o passar do tempo, e parece ser essa a tônica das grandes obras, o filme foi crescendo em minha predileção, a cada repassagem das cenas na memória, a cada nova leitura de críticas e resenhas. Se eu tivesse que refazer a lista de "Melhores da Mostra", com certeza ele subiria no ranking, provavelmente ocupando o 4º lugar (sem deméritos para os que baixassem de posição).

Pois bem. Vi algumas comparações da película com o "Cidade de Deus". Identidade apenas pontual, tangencial. Se tanto em um quanto outro a violência em um subúrbio é tema central, no filme italiano a discussão do problema vai muito mais longe.

Não há, como também já se disse por aí, romantização da violência.
A cena inicial do filme já escancara de pronto a intenção do filme. A máfia napolitana (Camorra) é retratada tal qual como ela é, sem romantização, sem glamour de outros filmes sobre mafiosos. Nos corretos dizeres de Sérgio Rizzo, da FSP, é a violência em estado bruto, retratando a atuação da máfia no sul da Itália de forma quase documental. Aliás, o filme tem como base o romance de não ficcção de mesmo nome, de Roberto Saviano, jurado de morte pelos mafiosos após suas pesquisas e incursões pelo submundo do crime organizado.

No filme há alguns núcleos, subcapítulos, com enfoques em personagens diversos. Há o cobrador e "pagador" da corporação, que nos leva para dentro das residências na periferia central da trama; há o jovem aspirante a mafioso; os rebeldes que sonham em derrubar a máfia, mas apenas para tomar o lugar dos chefões e serem eles próprios os principais bandidos do local (núcleo mais mais cômico, diga-se).

A principal problematização levantada pelo filme, porém, tem seu enfoque na globalização, que alcança até mesmo a indústria do crime. Aqui vê-se a máfia trabalhando para as grandes corporações industriais, fazendo o trabalho sujo, seja eliminando concorrentes do mundo da moda (imigrantes chineses), seja se encarregando de enterrar toneladas de lixo tóxico industrial.

O filme todo é de um "acabamento" ímpar. Trilha sonora (com muito pop-rock italiano contemporâneo), fotografia e montagens impecáveis, atuações excelentes. Repito: fortíssimo candidato ao Oscar. Dificilmente não ficará entre os 5 concorrentes finais.

Filme para ser visto mais de uma vez!

2 comentários:

cinemadicto disse...

assino embaixo meu amigo. um filme sensacional, talvez não leve o Oscar pq vc sabe como é a Academia né, se bem que eles tem mudado nos ultimos anos, mas a força de Gomorra é incrível e ja estou me preparando para revê-lo. Feliz ANO NOVO DAN. Abraçossss.

Daniel Luppi disse...

Salve Tahira Sam!

Não sei onde eu vi tempos atrás que o júri dos filmes estrangeiros é formado por votantes a parte. Ou seja, todos os associados da academia votam em todas as outras categorias, mas o de Filme Estrangeiro é específico e, por isso mesmo, tem uma visão mais artística (e mais seleta) dos filmes. Por essa razão é que estou apostando não na estatueta pra Gamorra (nem sabemos se não há outras obras primas a concorrer), mas na indicação entre os 5 finalistas.

É pagar pra ver!

Abração