sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Clipes do Balaio # 22 - Toca Raul!!!

Há exatos 20 anos morria Raulzito, no apartamento 1003 do Edifício Aliança Flat, na Rua Frei Caneca 1.100, em São Paulo.
Meu primeiro grande ídolo, embora, naquela ocasião, eu mesmo não tivesse essa noção, prestes que estava a completar míseros 11 anos de vida.
A lembrança mais antiga que tenho de Raul vem de uma brincadeira de criança, bem antes de sua morte - embora eu não saiba precisar exatamente o quanto antes - : eu e meu irmão mais novo, David, ouvíamos e nos divertíamos com "Mosca na Sopa" enquanto pulávamos repetidas vezes no colchão de mola de nossos pais. Não lembro como a música chegou até nós. Nem éramos capazes de enxergar o que havia por trás da letra jocosa. A nós, e a tantos outros fãs, bastava a alegria da melodia do compositor que tantas vezes ludibriou a censura e cantarolou suas críticas veladas e ferozes à ditadura militar.
Talvez o acesso a "Mosca na sopa" tenha sido obra de nosso irmão mais velhor, Júnior, esse sim "fãzaço" de Raulzito. Embora na época fôssemos "inimigos mortais", nos dizeres dos então eternos briguentos irmãos, não tenho dúvida que fui fortemente influenciado em meu gosto musical ao ser apresentado à fitas k-7 de Raulzito.
Antes mesmo das tais "fitinhas de música", um LP de meus pais rodava sempre na mesma faixa. O vinil, uma coletânea de diversos sucessos da época, de diversos intérpretes e compositores. A faixa gasta era "Eu Nasci Há 10 Mil Anos Atrás". A riqueza da letra, sua magia, também fizeram minha cabeça pré-adolescente.
Já em 87 - se não me engano - é que soube de fato quem era o tal Raul Seixas. Com mais uma música de minha predileção juvenil: "Cowboy Fora de Lei", com direito a clipe no Fantástico e tudo o mais. O restante só fui descobrindo aos poucos, e somente após sua morte. Perdi a conta de quantas vezes fui, por exemplo, a shows de Roberto Seixas, seu cover mais famoso, onde todos fingiam acreditar se tratar do original para, em transe, repetir "pelos cinco mil autofalantes" todos os hits de Raulzito.
Inegável sua importância para a música brasileira, influenciando tantos outros músicos e estilos, desde seu parceiro Marcelo Nova a Chico Science, passando por Ira! e Raimundos.
Ao lado do mago Paulo Coelho, "fundou" a Sociedade Alternativa, pregou o hedonismo místico de Aleister Crowley (" Faz o que tu queres/Pois é tudo da Lei!") e, numa espécie de "rastro de Voltaire", defendeu o "direito de ser ateu ou de ter fé" em "O Novo Aeon" (vídeo abaixo).
Por tudo isso, e sempre com coragem para as denúncias e críticas ao regime que "apertava nossos 'pés 37' ", Raul Seixas era de fato um filósofo - sem a banalização sofrida por este e outros termos como "poeta", "gênio", etc. -. E ele foi tudo isso!












"TOCA RAUL" NA VIRADA CULTURAL

Na Virada Cultural deste ano, dias 2 e 3 de maio, um dos palcos foi dedicado inteiramente à discografia de Raul Seixas. Vários artistas, de companheiros antigos a fãs influenciados pelo primeiro roqueiro brazuca, revezram-se no palco "Toca Raul" apresentando a discografia completa de Raulzito, na ordem cronológica. O ordem das faixas também era para, a pincípio, ser respeitada pelos intérpretes. Não foi, ao menos no pouco que pude acompanhar.

Belo cenário para a homenagem: ao fundo do palco, a torre da Estação da Luz, em estilo inglês inconfundível, marca a hora certa. Os shows é que não obedeceram muito a pontualidade britânica.

23h. No palco, Edy Star apresenta as canções da "Sociedade da Grã-Ordem Kavernista apresenta Sessão das 10" (1971), clássico LP coletivo que contava ainda com Sérgio Sampaio e Miriam Batucada, além de Raul Seixas. Entre o público, uma energia muito boa presente em pouquíssimos palcos desta Virada, que somente fez lamentar pelas edições passadas. Mas não nesse palco. Aqui, puxados por Edy Star, todos repetiam "Todo Mundo Está Feliz" [aqui na Terra], uma das faixas do lendário disco. E estavam mesmo. E ignoravam o atraso dos shows seguintes, até mesmo porque para aquele público não faria diferença alguma, já que à exceção de poucos (eu, por exemplo), não cogitavam acompanhar a programação dos outros palcos.

Somente às 23h45, com 50 minutos de atraso, é que um boneco de Raul Seixas é manipulado no palco anunciando a entrada de Nasi, interpretando "Krig-ha-bandolo" (1973), primeiro disco solo de Raulzito, após uma uma breve mas bem sucedida carreira de produtor musical (produziu, entre outros, Sérgio Sampaio e Diana).

Apresentação curta (menos de uma hora de duração) mas o suficiente para empolgar toda a "tribo" presente. Nasi não respeitou a ordem das faixas e precisou tocar outras que não pertenciam ao célebre disco para fazer "volume". O álbum, um de meus prediletos da discografia de Raulzito, ao lado de "Novo Aeon", traz alguns dos maiores sucessos do Maluco Beleza: "Mosca na Sopa" (a primeira que conheci, como já dito), "Metamorfose Ambulante", "Dentadura Postiça", "As Minas do Rei Salomão", "Al Capone", "Rockixe" e "Ouro de Tolo", primeiro grande sucesso da carreira interrompida em 1989.

Fim da apresentação. Quase uma hora da manhã. Fácil perceber a "leveza" no sorriso dos transeuntes após o show, em plena região da Cracolândia. Satisfeito com o que ouvi, brindei a Raulzito e pude ir embora pra outras bandas.

PS: Lamentável a ausência de homenagens ao cantor em São Paulo neste fim de semana. Não há um único palco montado para a data, uma única homenagem sequer.

Um comentário:

cinemadicto disse...

salve salve meu amigo. q bom tê-lo de volta a blogosfera. tb sou fã incondicional de Raulzito. Além das cançoes ja citadas, umas da q marcaram minha adolescência foi a linda "MATA VIRGEM", além de tantas outras. e logo logo ele estara nas telonas com documentário e ficção. resta aguardar a visao de nossos cineastas para com o ídolo Raulzito. ... eu calço é 37 ... maravilhoso!