quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Ainda Eric Rohmer - "Conto de Outono"


Comentei na postagem sobre a morte de Eric Rohmer que não havia visto muitos filmes dele. Pois hoje supri parcialmente esta falta.

Como comentei por lá também, tá rolando na cidade duas boas mostras sobre o cineasta. A que fui conferir foi a do HSBC. O filme da semana é o "Conto de Outono". E que filme, meus senhores, que filme!

Se Rohmer pode parecer hermético a muitos (a crítica que mais se faz a seu trabalho), penso que isso se deve muito mais a um costume a que o "público" em geral foi submetido nas últimas décadas, no sentido de se ter filmes ou com ação (latu sensu, sempre tem que "acontecer" algo), com música pra incrementar, sem muita coisa "difícil" para se pensar depois do filme terminar, etecétera. Isso nem é teoria minha, muito se diz a respeito por aí.

A impressão que ficou para mim após a sessão só confirma a tese. Não achei nada de "difícil" no filme (nosso Bressane, para ficarmos em um exemplo, é mais "inacessível", e que fique claro que isto, para mim, não é um defeito).

Há muitos diálogos? Ótimo! E qual o problema nisso?! E são ótimos diálogos, diga-se de passagem e perdoem a repetição da palavra.

Se há uma "racionalização" de sentimentos (" 'desromantiza' até o amor" foi comentário que li após sua morte) deve-se pensar na dificuldade de se fazer isso com maestria. Talvez interessados em psicologia gostem ainda mais de Rohmer nesse sentido, já que tudo é discutido nos diálogos. E, repito, muito bem feito, muito bem construído o roteiro, que de "chato" não tem nada.Ao contrário, em "Conto de Outono" ele resulta, no fim das contas, em um delicioso filme, leve e bem humorado. Passadas as primeiras tomadas, os tais "diálogos excessivos" nem são mais tão reparados, tal o envolvimento a que chega o espectador. Vale anotar que o filme merecidamente ganhou o prêmio de melhor roteiro no Festival de Veneza em 98.

A cena final, em que uma bandinha local toca em uma festa de casamento é um deleite a parte. Não sei se por conta dela, ou se o público do Cineclube HSBC é diferenciado, mas o fato é que mais de 90% dos presentes (e nem eram tão poucos!) só se levantaram quando o projetor foi desligado, após os créditos finais.

O negócio é mergulhar mesmo no restante da programação e descobrir outras preciosidades.

Um comentário:

Clayton Melo disse...

Homenagem necessária, não?
Abraços rohmerianos!