quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

As dez mais paulistanas

Adilson Thieghi intimou-me a relizar uma lista dessas de “melhores” ou “piores”, qualquer que fosse o assunto, para inserção em interessante espaço criado lá em seu blog, o "Bar1211!" (que vale a visita!).
Devo confessar, antes de qualquer outra coisa, que a idéia de fazer esse tipo de lista nunca foi de meu agrado. Acaba-se cometendo muitas injustiças. Após algum tempo sempre pinta um certo arrependimento de ter inserido a música ou filme “A” em detrimento do “B”. Por outro lado, mentiria se dissesse que nunca elaborasse as malfadadas listas.
Mas enfim. Por tudo isso, especialmente para o Bar1211!, resolvi fazer uma lista temática. O recente aniversário de São Paulo inspirou-me a tanto, com canções representativas de Sampa (apesar de o BAR1211! ter sede em Santo André). Lá no blog de Adilson, a proposta era apenas listar. Me excedi e dei trabalho ao rapaz para editar. Aqui, por outro lado, segue com os comentários prolixos.
A ordem em que as músicas aparecem não é estritamente por preferência, nem por importância. Tais critérios foram levados em conta sim, mas não a risca.
Algumas músicas são óbvias e por isso mesmo não poderiam faltar. Com certeza são “lugar comum”, mas indispensáveis, eu diria. Também haverá alguma polêmica, lógico. Tentei ser amplo e abarcar diversas épocas. Devo frisar que escolher apenas dez foi muito custoso. Por essa razão, entre as dez há diversas citações de outras músicas, as quais poderiam, em muitos casos, perfeitamente substituir as escolhidas (mesma época, mesmo estilo, movimento, compositor, intérprete, etc). Onde foi possível, vídeo das canções.

Ei-la:

1. “SÃO SÃO PAULO, MEU AMOR”, de Tom Zé (1968). Começando com polêmica, eu acho. Sendo uma lista pessoal, reservo-me o direito de colocar esta música, vencedora do Festival da Record de 1968, encabeçando o rol, até mesmo para fugir das obviedades (que virão a seguir). Tom Zé é genial, gostos a parte, e é inegável o quanto a letra de “São São Paulo” é representativa dessa metrópole: São oito milhões de habitantes [em 68]/ Aglomerada solidão/ Por mil chaminés e carros/ Caseados à prestação /Porém com todo defeito/ Te carrego no meu peito /São, São Paulo/ Meu amor.”


Ainda de Tom Zé, poderiam estar elencadas por aqui ao menos duas outras tipicamente paulistanas: “Augusta, Angélica e Consolação” e a divertida “A Briga do Edifício Itália com o Hilton Hotel”.

2. “SAMPA”, de Caetano Veloso (1978), dispensa maiores comentários. Óbvia mas imprescindível em qualquer lista do gênero. Ok, é mais representativa que a de Tom Zé. E mais bela também. Mas apenas quis fugir das obviedades, como já ressaltado.



3. “TREM DAS ONZE”, de Adoniran Barbosa (1965). Outra escolha evidente. Adoniran e Demônios da Garoa, uma das mais bem sucedidas parcerias na música brasileira, tornou conhecidos por todo o país os bairros Bixiga e, especificamente em “Trem das Onze”, Jaçanã. Se não me engano, essa música até já ganhou um “concurso”, patrocinado por uma emissora de televisão, como sendo a “cara de São Paulo”. Nesse sentido, acho que “Sampa” é mais completa. Mas nem por isso dá para ignorar a força que tem “Trem das Onze”, símbolo maior da dobradinha “Adoniran X Demônios”. Também dessa união “O Samba do Arnesto”, “Saudosa Maloca”, “Tiro ao Álvaro”, “Samba no Bixiga” e tantas outras.



4. “SÃO PAULO, SÃO PAULO”, de Oswaldo, Biafra, Claus, Marcelo e Wandy Doratiotto (Premeditanto o Breque) (1984). Grande Premê!! Grande Vanguarda Paulistana!!!! A divertida música, em alusão a “New York, New York”, retrata muito bem a maior cidade da América do Sul, terra de “japonesas louras”, de “nordestinas mouras”, de “gatinhas punks” e do “jeito yankee”. Cidade onde o “clima engana” e a “vida é grana”, mas sem esquecer que, “na periferia, a fábrica escurece o dia”. Por fim, em ritmo de CPTM, uma pequena listagem de bairros paulistanos. Uma feliz composição do Premê, sem dúvida. Também deles (pra citar mais uma), o “Lava Rápido”, cuja letra é impensada para qualquer outro grupo não formado em São Paulo.
Ainda nessa linha de grupo “bem humorado” vale citar o Joelho de Porco, que contava com Tico Terpins e Zé Rodrix entre seus integrantes. O conjunto, bem menos conhecido que o Premê mas tipicamente paulistano, também tem suas pérolas dignas de nota: “Aeroporto de Congonhas” e “Bom Dia São Paulo”, pra ficarmos apenas em dois exemplos. Grupo bem menos conhecido, mas tipicamente paulistano.




5. “RONDA”, de Paulo Vanzolini (1945). O samba-canção, verdadeiro canto de amor homicida que retrata a mulher em busca de seu amante, de bar em bar, provavelmente foi a música mais conhecida (e cantada) entre os boêmios paulistanos das décadas passadas. A data citada é a da criação pelo zoólogo compositor (Paulo Vanzolini é servidor aposentado do Instituto Butantan). Gravação mesmo só pintou em 1953, meio que por acaso, quando Inezita Barroso gravou seu primeiro disco e precisava de outra canção pra compor o lado B do compacto. Vanzolini estava acompanhando Inezita ao estúdio e, somente por isso, “Ronda” constou do mesmo disco em que a rainha caipira despontou com “Moda da Pinga”. Mas sucesso mesmo só apareceu em 1967, quando interpretada pela cantora Cláudia Morena e, em 1977, o estouro na voz de Márcia. Maria Bethânia a regravou no ano seguinte, mesmo ano em que seu irmão Caetano se utilizava da melodia final de Vanzolini para arrematar “Sampa”. (bibliografia: “A Canção no Tempo, Vol. 2”, de Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello, Ed. 34, 5ª Ed., 2006, pp. 115/116)

PS:No vídeo abaixo, versão na voz do carioca mangueirense Jamelão, falecido em junho do ano passado.
PPS: No revitalizado bar do Alemão, sob a gerência de Eduardo Gudin, é possível, com alguma sorte, encontrar Vanzolini sentado a uma mesa, entre amigos e uísques, dando uma palhinha para boêmios de sorte. Informação de Chef Julinho.





6. VANGUARDA PAULISTANA, LUIZ TATIT, ITAMAR ASSUMPÇÃO... Aqui farei menção não a uma única música, mas a todo um movimento com a cara de Sampa. Luiz Tatit é compositor egresso da Vanguarda Paulistana, cabeça do Grupo Rumo e um dos principais nomes do movimento, que incluiu também o já citado Premê. Além de tipicamente paulistano, Luiz Tatit nos brinda na canção “ESBOÇO” (2000) com uma colagem de bairros e algumas de suas características: “E ele passeia, passeia/Passeia como se fosse um turista/E cumprimenta todo mundo/Que freqüenta a Bela Vista/E mesmo que ele esteja sem dinheiro/Dá uma passadinha nos botecos de Pinheiros/Chega com uma cara que dá pena/Mas é gente muito boa/Lá da Vila Madalena/Sempre sobra um copo de cerveja/Fica tão contente/Mas não quer que ninguém veja/Então procura o centro da cidade/Na Liberdade/Lá ele aparece algumas vezes/Lá os seus amigos são chineses/Canta umas canções em pot-pourri/E o pessoal morre de rir/E no fim da noite/Dá o último giro/No Bom Retiro/ (...)/E ele vagueia, vagueia/Vagueia como se fosse um cachorro/Avança, volta um pouco/Chegando até Socorro/Lá ele não conhece muita gente/Então pega a Marginal, o Jóquei Clube/E segue em frente/Gosta de entrar um pouco na USP/Gosta de sentir que é estudante/Mesmo que não estude ele embroma/Com tanta perfeição/Que sempre sai com um diploma/E vem pra casa então todo feliz/Em Vila Beatriz/Tem os seus horários de paquera/Tem o seu lugar no Ibirapuera/Tem o seu amor em Santo Amaro/Que ele encontra pelo faro/E tem um gosto muito próprio/E muito raro”.

Também de Tatit, mas ainda da época do Rumo, a música “PRO BEM DA CIDADE” (1981), que retrata um cotidiano muito conhecido de muitos paulistanos: “Como é difícil você não se entrosar/E ainda ter uma certa tendência/ pra se espreguiçar em hora errada/E São Paulo não pode parar pra te acompanhar/ Como é difícil!/E você acaba perdendo a calma/Porque seu ônibus não espera/Se você corre, gesticula/Grita desesperado, ele espera/Mas se você vem devagarinho, meio com sono,/ele não espera./Acho que vou ter que dar um jeito nessa cidade/É pro bem dela/Já que não vou mudar mesmo,/Eu vou dar um jeito nela,/É pro bem dela!”

E já que falei em Vanguarda Paulistana, não poderia deixar de mencionar Itamar Assumpção e a sua VENHA ATÉ SÃO PAULO”. Dessa canção o vídeo do sexto lugar da lista:


PS: Rita Lee (a mais perfeita tradução de São Paulo, segundo Caetano na já citada “Sampa”) participou da gravação dessa música com Itamar.

7. “UM LUGAR DO CARALHO”, de Júpiter Maçã (1997). Outro forasteiro da lista. E provavelmente outro ponto de discórdia entre os leitores dessa lista. Mas em minha humilde opinião a música é perfeita para se ouvir em alto e bom som no carro, a caminho das baladas de sampa. Rock gaúcho do bom, com letra no mínimo interessante:

Esta cidade tem vários lugares que fazem jus ao título, ainda que com outras descrições (menos hardcore) e outras tribos, principalmente os lugares ainda não descobertos pelos modismos.


8. “EH! SÃO PAULO”, de Murilo Alvarenga (1934). Mais um compositor de outro Estado fazendo sua homenagem a Sampa. Aqui, Alvarenga, da dupla caipiro-mineira Alvarenga e Ranchinho que eternizou a cidade da garoa:

Como se vê, muita coisa mudou da década de trinta pra cá. Campinas verdejantes, hoje, apenas no interior. Céu anil?!?!? Nem digo nada! Mas vale o registro de que há muito tempo essa cidade é amada e cantada.

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