domingo, 29 de março de 2009

Barrado

Caros sequazes deste Balaio.
Eu pretendia iniciar minha jornada do "É Tudo Verdade" com o festejado filme inédito de quem, dizem por aí, é o maior documentarista de Israel. Assim, já me programava para ir assistir ao Z32, de Avi Mograbi.
Mas me senti barrado. Consultando o site oficial, para saber ao menos do que se tratava o filme e não chegar à sessão "boiando", descubro que a cópia tem legendas em inglês. Ainda não sei o que pensar. Apenas acho lamentável. Não somente porque me senti barrado, mas também porque sabemos o quanto isso delimita o público. Alguém aí dirá: "o público desse tipo de festival já é delimitado". Concordo, mas parcialmente. Se não pensarmos nas exceções também, não haverá como ampliar o gosto desse público, chamar e formar novos cinéfilos. Eu mesmo sou exceção dentre esses frequentadores, como alguns de vocês bem sabem. Sim, me envorgonho um pouco de não saber outro idioma além do português mas, assim como os demais analfabetos deste país (inclusive com relação ao idioma pátrio) conheço as razões e limitações pessoais que me impediram disso.
Acho que cabe ainda citar Ferrez que, muito oportunamente, comenta no "Palavra (en)Cantada" que cultura (ele se referia especificamente à literatura) não pode ser vista como algo inatingível, para poucos. O próprio povo deve ver como algo corriqueiro. Tenho até uma certa bronca com a forma como a palavra "cultura" é utilizada por aí. Sou de uma geração muito mal acostumada a fazer certos tipos de programas, que sequer tenta olhar para , desculpem-me a repetição deliberada, o lado artístico das manifestações artísticas (os blockbusters são apenas um exemplo, a ponta do iceberg). Para esta geração e as subsequentes falar em "fazer um programa cultural" é sinônimo de "status" (intelectual, pelo menos).
Voltando ao Z32, como ver um filme com legenda em inglês poderia ser tido como algo corriqueiro em um país carente até mesmo da educação básica? Exemplo mais próximo para nós de sampa, o ensino estadual desse "maior estado da federação" é uma lástima até na educação básica. Sou egresso desse sistema e sei bem como a coisa é degringolada (de meu tempo de colégio para cá- aproximadamente últimos 15 anos - a coisa só piorou).
Mas resumindo, e desabafos à parte, não poderei assistir ao Z32. Não ouso criticar a organização (apenas lamento) até mesmo porque o filme não pertence à mostra competitiva. Esta sim deve exigir que as cópias cheguem ao Brasil com legendas em nosso idioma oficial (talvez já o exija, não sei). Talvez tenha sido dificultoso trazer Avi Mograbi ao país e uma cópia mesmo com legenda em inglês já seja uma vitória de Amir Labaki e companhia.
A mim, restará assistir a "Sobreviventes". Título bem oportuno, por sinal, não?!
PS (inserido às 17:50): Eu não ía criticar a organização, mas já percebi que alguns dos filmes têm legendagem eletrônica. Assim, poderiam muito bem ter providenciado este tipo de legenda, em português, a tempo. Ou não?

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