segunda-feira, 30 de março de 2009

Slumdog movie


Já faz um bom tempo que estou para escrever sobre o "Quem quer ser milionário?" ("Slumdog Milionary"), ganhador do Oscar deste ano. Não gostei do filme. Mas até que foi bom ter demorado. A "raiva" diminuiu e até consigo ver algumas cenas "boazinhas".
Em primeiro lugar, pareceu-me ser um recorte de vários outros filmes. Acho até que algo parecido já foi dito por aí, mas não tenho certeza. Nas primeiras cenas fica evidente a influência de "Cidade de Deus", embora o diretor Danny Boyle insita em negar. Não faltou nem a galinha, como já haviam me alertado meus caros Thiago Figueiredo e Rogério Tahira.

Trata-se de uma fábula, de um "conto de fadas", impregnado das fórmulas de uma Holywood clássica e da atual Bollywood. Mas apenas superficialmente. nem de longe lembra um filme de Bollywood, como pretendia Boyle.
Acompanhamos a história de Jamal Malik. Ainda menino, conhece e se apaixona por Latika quando ambos ficam órfãos. Esse é apenas o primeiro dramalhão de uma história repleta deles. Mais um péssimo exemplo de filme que quer arrancar a fórceps alguma emoçõa dos espectadores, forçando situações.

Mas voltemos a Jamal. Separado forçosamente de Latika quando ainda crianças, busca durante toda a sua vida por ela. Latika, como exige um conto de fadas, torna-se uma mulher deslumbrantemente lindíssima (a personagem adulta é vivida por Freida Pinto, melhor coisa do filme e com presença já garantida no próximo longa de Woody Allen). É nessa busca por Latika que Jamal decide participar do programa televisivo que dá nome ao título brasileiro. Programa bastante popular na Índia, ele sabe que sua amada estará assistindo ao "Quem quer ser um milionário?" e espera desta forma novamente encontrá-la.

Neste ponto, aliás, é que a história começa a nos ser contada. Jamal, um "favelado", um "vira-lata" como sugere o título original, mal visto por todos, surpreendentemente se destaca chegando à pergunta final e é preso acusado de fraudar o programa, que já havia derrubado "os mais cultos da Índia". A partir daqui temos um artifício de Boyle que achei bastante chato de se ver na tela, embora no livro em que se baseia a história parece ter sido melhor explorado, conforme já li a respeito.

Por meio de cada pergunta feita no programa, Jamal explica ao delegado que o mantém preso como sabia as respostas, tudo sendo relacionado com episódios drásticos vividos por ele até então, repassados por meio de flashbacks. Na telona, achei forçadíssimo. Em cada cena-resposta, uma passagem carregadíssima de drama. No romance "Sua Resposta Vale um Bilhão", de Vikas Swarup, este artifício é explorado para, sempre com humor negro, expor as feridas da Índia moderna, sua pobreza, os abismos sociais e todos os demais problemas terceiromundistas. Disso tudo, no filme há apenas uma intenção de Boyle de mostar as tais feridas. O humor negro está presente, mas de uma forma que não surte o efeito pretendido. Muitas cenas beiram o ridículo, por sinal. Para atingir a fórmula de fábula, o "bom e puro menino", quase imaculado, sobreviverá a tudo e encontrará sua paixão. "É o destino", diz o trailler do filme.

Em alguns poucos trechos Boyle consegue manter uma certa tensão, um certo suspense (como na cena em que Jamal e seu irmão voltam para resgatar Latika, em poder de criminosos). Mas é muito pouco. Tais cenas ficam perdidas em meio a tantos clichês e "inspirações" duvidosas. Não sei se é exagero meu, mas além de "Cidade de Deus", enxerguei um certo Jia Zhang-Ke de "24 City" ou de "Still Life" em uma cena rodada no alto de prédios em construção. Sem a mesma qualidade do chinês, todavia.

Por onde passou arrebatou prêmios: além do Oscar, faturou o Bafta (Grã-bretanha) o Globo de Ouro de filme de drama, entre outros. Juro que não consigo entender essa premiação toda. Tem pontos positivos, claro. Mas o suficiente para tantos prêmios? Acho que não. Seu mais alardeado ponto positivo é um retrato de costumes ocidentalizados da Índia atual: as modernidades tecnológicas chegando a toda a população, os call-centers abarcando grande parte dos novos postos de emprego, a fissura do povo indiano pelos shows de TV. Mas esse "mergulho na cultura" que atribuem a Boyle é apenas superficial.

Cinematograficamente falando, o que os indianos têm de mais divertido ficou de fora. Apesar de usar cores saturadas na tela, não há diversidade como nos alegres filme bollywoodianos. No geral temos um filme escuro. Diversidade de cores apenas quando retrata a "Índia de verdade", em determinada cena nas típicas lavanderias a céu aberto. A música é demasiadamente ocidentalizada (o que até é condizente com a proposta do filme, de mostrar justamente uma Índia ocidentalizada, mas não me agradou). Talvez agrade aos fãs de M.I.A.. Vale lembrar, a título de comparação, que Spike Lee conseguiu uma fusão infinitamente melhor em seu filme "O Plano Perfeito" com o uso da também bollywoodiana "Chaiyya Chaiyya". Até mesmo a novelinha da Glória Fezes tem uma abertura com música mais interessante. A dança, uma das maiores características de filmes indianos, aparece só no final, já com os créditos. E muito pouco, distante do que é normalmente visto em filmes indianos. Boyle parece acreditar que as coreografias indianas resumem-se a muitas pessoas dançando juntas. Os "passos" mesmo são reduzidíssimos. Parece que a cena está ali só para que o longa tivesse um número dançante. Dessa cena pelo menos extrai-se talvez a única canção um pouco mais agradável na trilha: "Jai Ho", de A. R. Rahman, ganhadora do Oscar de melhor canção.
Amanhã, breves comentários de outro filme indiano, esse sim muito divertido: "Jodhaar Akbar".

2 comentários:

Anônimo disse...

Milionários todos querem ser... mas QUEM QUER SER JOSÉ RICO...

Procurei, não tem.

Daniel Luppi disse...

Ahahahaha
And you will never know...
como eu já havia lhe dito, nikita, muito boa essa associaçao!