domingo, 2 de novembro de 2008

CRIANÇAS DA PIRA



Há filmes a que assistimos durante a Mostra apenas por acidente. É o meu caso em relação ao documentário indiano "Crianças da Pira". Eu havia planejado ver outro filme, mas a programação foi alterada de última hora. Como o filme seguinte também era na mesma sala, resolvi ficar para conferir.

Bom, foi a debandada mais rápida que vi em uma sala de cinema. Com apenas alguns minutos de filme metade dos presentes já havia se evadido. Também não é para menos: o começo do filme é péssimo. Imagens escuras (noturnas) realizadas em um crematório a céu aberto, com closes em partes de corpos humanos se derretendo nas "fogueiras". De fato, nada agradável ver um pé torrando e sua gordura escorrendo e borbulhando. Tudo para documentar a vida de um grupo de meninos indianos que ganham a vida ajudando nesses crematórios, seja alimentando a pira, rearranjando os corpos no fogo, ou ainda roubando mortalhas para revendê-las.

Um pouco mais adiante no filme as imagens iniciais são até justificadas. Não haveria outro meio mais eficiente de chamar a atenção para a realidade dessas crianças e para os rituais funerários hindus. Há uma passagem muito interessante, em que uma festa (com bandas, barracas, luzes e muita música) é montada anexa ao crematório. A festa rolando e os corpos chegando em meio à multidão. Bizarro para nossos padrões ocidentais.

As crianças entrevistadas são personagens bastante interessantes e, por isso, talvez valha a curiosidade. Um bom painel dos sonhos (ou a ausência deles), das vidas, das realidades de crianças que perdem sua infância para ajudarem em casa com algum trocado.

As tais imagens iniciais, apesar de justificadas, não precisariam ser repetidas em outros pontos do filme. Há um excesso. Mas no geral é um filme interessante, apesar de seu estilo televisivo. Nesse ponto lembra mais um documentário do National Geographic ou similar.

Ao final, uma apelação básica: o filme é dedicado "a milhões de crianças pelo mundo que não têm oportunidade de viver uma infância normal".

Quem tiver curiosidade, o documentário será reprisado neste domingo (2/11) na excelente sala BNDES da Cinemateca, às 17:50. A cinemateca também exibirá o ganhador da Mostra deste ano, "O Estranho em mim".

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